quarta-feira, 22 de junho de 2016

COMO FAZER UMA COMPOSTEIRA EM CASA E REAPROVEITAR SEU ‘LIXO’



COMO FAZER UMA COMPOSTEIRA EM CASA E REAPROVEITAR SEU ‘LIXO’

Restos de alimentos podem ser transformados em adubo, aliviando aterros sanitários e dando nova vida a rejeitos

Lidar com toneladas e toneladas de material descartado todos os dias nas cidades é um dos grandes problemas urbanos contemporâneos. No Brasil, cada pessoa produz uma média de 1 kg de lixo por dia. Somando toda a população, isso dá cerca de 73 milhões de toneladas de rejeitos todos os anos.
Os dados são da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), que também aponta que a maior parte desse lixo doméstico (51%) é de matéria orgânica, como restos de alimentos, cascas de frutas, folhas de plantas e até pedaços de madeira. Só na capital paulista são produzidas diariamente 5.000 toneladas de lixo orgânico.
     FOTO: CLÁUDIA DOS ANJOS/REPRODUÇÃO/CC 2.0
     A TRIAGEM DE COMPOSTOS ORGÂNICOS REDUZIRIA VOLUME DE LIXO EM ATERROS

Esse tipo de material, no entanto, juntamente com materiais “secos” (como papel, plástico, vidro e latas de alumínio, que representam cerca de 35% do lixo paulistano), não precisariam necessariamente parar em aterros e lixões, onde acabam misturados a resíduos inaproveitáveis.
Se para o descarte de materiais secos o destino alternativo é a reciclagem, para o de material orgânico um caminho que vem ganhando popularidade é o da compostagem. O processo tenta reproduzir o fenômeno natural de decomposição, que “quebra” esse material orgânico transformando-o em compostos ricos em nutrientes, úteis para o desenvolvimento de plantas.
Em situação um pouco diferente da reciclagem, já adotada por diversos municípios por meio de políticas públicas para destinação adequada de materiais reaproveitáveis, a compostagem no Brasil ainda engatinha. Em diversas cidades do mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, a triagem por domicílios ou empresas do lixo em recicláveis, orgânicos e rejeitos é obrigatória. Além de contar com centrais de compostagem, nesses locais é comum também o incentivo à construção de composteiras caseiras.
Compostagem pode ser realizada tanto em casa, usando restos de alimentos de consumo doméstico, como na agricultura para a produção de adubo orgânico
De olho nessa tendência global, a cidade de São Paulo adotou em 2014 um programa de distribuição de composteiras a 2 mil domicílios (veja neste mapa colaborativo) e concluiu, em dezembro de 2015, a primeira central de compostagem pública do município, voltada para a coleta de orgânicos descartados em feiras livres. Segundo a prefeitura, a cidade poderia reduzir de 10% a 20% a quantidade de lixo enviada a aterros sanitários locais.
O que exatamente é compostagem?
É a técnica de transformação, por meio da ação de micro-organismos e minhocas, de matéria orgânica em um composto rico em húmus e nutrientes minerais (como carbono e nitrogênio). Sua finalidade é dar destino sustentável ao que seria lixo comum, evitando danos ao meio ambiente e ainda produzindo adubo e fertilizante naturais. Pode ser realizada tanto em casa, usando restos de alimentos de consumo doméstico, como na agricultura para a produção de adubo orgânico.
      FOTO: ANÁLIA BERTUCCI/REPRODUÇÃO/CC 2.0
     COMPOSTO RESULTANTE DO PROCESSO PODE SER USADO COMO ADUBO

Fazendo uma composteira em casa
Há inúmeras formas de construir um sistema caseiro de compostagem. Em geral, a maioria envolve o uso de três recipientes verticalmente interligados (idealmente caixas plásticas, mas que podem ser baldes, garrafas ou potes grandes, etc), terra preta e, opcionalmente, minhocas (agentes que aceleram a decomposição). A única ferramenta necessária é uma furadeira.
Os dois recipientes superiores são chamados de “caixas digestoras”. É nelas que o processo de descarte de material orgânico e decomposição é feito. Elas devem possuir furos na base (de cerca de 1 cm), e outros menores nas laterais e na tampa para ventilação. O terceiro recipiente será o responsável pela coleta do chorume resultante da produção de húmus. De cor escura, o líquido pode ser utilizado como fertilizante para plantas, após diluído em água (em uma proporção de 1:10). Por isso, recomenda-se a instalação de uma pequena torneira na lateral inferior da caixa.
VEJA UM SISTEMA DE COMPOSTEIRA CASEIRA:

Manejo e cuidados

Mantenha sua composteira em um local arejado e protegida do sol. Na caixa do topo, cubra o fundo com terra preta. Em seguida, coloque as minhocas (recomenda-se o uso das conhecidas como “minhocas vermelhas” ou “californianas”). A partir desta etapa, basta  acrescentar constantemente os restos de alimentos picados (veja abaixo o que pode e o que não pode) em pequenos montes na base da caixa, sem nunca deixar de cobri-los proporcionalmente com o dobro de matéria “marrom” (folhas, gramas e palha secas, além de serragem, papelão, jornal etc). Isso evita a atração de insetos e garante o equilíbrio de nitrogênio e carbono.
Após completar a caixa digestora do topo, troque-a de lugar com a caixa digestora do meio e repita o processo. Passado cerca de um mês, o trabalho de decomposição e produção de húmus pelas minhocas já deve estar concluído na primeira caixa. Para coletar o adubo sem perder as minhocas (muitas delas já terão migrado para a caixa superior em busca de novos alimentos), coloque a caixa no sol (como não gostam de luz, elas irão para o fundo) e “raspe” o húmus tomando cuidando para não remover a camada inicial de terra preta. Agora basta trocar de lugar com a caixa de cima e recomeçar o ciclo. O chorume deve ser coletado regularmente.

O que pode ser colocado na caixa:

  • Flores, plantas, frutas e cascas (exceto cítricas)
  • Legumes e verduras
  • Pedaços de pão e bolacha
  • Filtros de papel, borra de café e chás
  • Alimentos cozidos (sem tempero) e casca de ovo
  • Papel toalha usado, jornal e papelão picado

O que não pode ser colocado:

  • Carne e comidas temperadas
  • Líquidos (laticínios, caldos, etc), óleo e gordura
  • Papel higiênico usado e fezes
  • Madeiras tratadas e compensados
  • Ossos e espinhas
  • Remédios

É nojento, fede ou atrai moscas?

O programa de compostagem da capital paulista (Composta São Paulo) perguntou aos cidadãos participantes sobre dificuldades encontradas após um ano usando composteiras em casa. Presença de moscas (67%) e “nojo” (7%) foram duas delas. No entanto, após buscarem informações sobre o tema, a maioria (60% e 85%, respectivamente) conseguiu lidar com o problema. No caso do “nojo”, usar luvas para espalhar as minhocas e garfos de jardim para mexer a terra pode ajudar.
O mantra dos defensores da compostagem é: composteira não fede, nem atrai moscas. Para que isso aconteça, no entanto, é necessário seguir algumas recomendações.

     FOTO: JACQUELINE ALVES/REPRODUÇÃO/CC 2.0
     MISTURA DE ORGÂNICOS ÚMIDOS E SECOS EM CAIXA DE COMPOSTAGEM

Três dicas para sua composteira:

MANTENHA...
...o sistema protegido do sol, em lugar arejado, com a tampa da primeira caixa fechada e garanta a ventilação nas caixas digestoras através de furos laterais e remexendo seu conteúdo após 15 dias de compostagem.
PRESTE ATENÇÃO...
...à proporção entre matéria seca (como serragem) e matéria úmida (por exemplo, casca de banana). A primeira deve sempre ser o suficiente para cobrir completamente os restos de alimentos. Isso evita mau cheiro e, por consequência, a presença de larvas e moscas.
NÃO MISTURE...
... qualquer dos elementos presentes na lista de orgânicos proibidos (acima), pois eles podem causar mau cheiro e matar as minhocas.

O que faço com o que produzir?

Ao fim do processo, toda a matéria orgânica se transforma em composto sólido rico em nutrientes que, como vimos, deve ser retirado da composteira e pode ser usado como adubo em vasos ou terrenos com plantas.
Já o chorume (ou biofertilizante) retirado da terceira caixa deve ser diluído em água (uma porção de chorume para nove de água) e pode ser usado na rega ou ainda borrifado nas folhas.

Mas eu não tenho plantas em casa...

A compostagem é uma prática recomendável mesmo para aqueles que não têm interesse em fazer uso do húmus ou do biofertilizante resultantes do processo. Nestes casos, há algumas saídas. A prática mais comum é a doação a familiares e amigos que tenham plantas. A segunda é o repasse para condomínios, escolas e comércios com jardins.
Por fim, é possível se aliar a projetos de hortas comunitários perto da sua casa. Alguns municípios listam as hortas locais no site da prefeitura, mas há também mapas colaborativos na internet que podem ajudar na tarefa, como o internacional Falling Fruit e o Mapas Coletivos.

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