COMO FAZER UMA COMPOSTEIRA EM CASA E
REAPROVEITAR SEU ‘LIXO’
Restos de
alimentos podem ser transformados em adubo, aliviando aterros sanitários e
dando nova vida a rejeitos
Lidar com
toneladas e toneladas de material descartado todos os dias nas cidades é um dos
grandes problemas urbanos contemporâneos. No Brasil, cada pessoa produz uma
média de 1 kg de lixo por dia. Somando toda a população, isso dá cerca de 73
milhões de toneladas de rejeitos todos os anos.
Os dados são
da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais), que também aponta que a maior parte desse lixo doméstico (51%) é de
matéria orgânica, como restos de alimentos, cascas de frutas, folhas de plantas
e até pedaços de madeira. Só na capital paulista são produzidas diariamente
5.000 toneladas de lixo orgânico.
A TRIAGEM DE COMPOSTOS ORGÂNICOS REDUZIRIA VOLUME DE LIXO EM ATERROS
Esse tipo
de material, no entanto, juntamente com materiais “secos” (como papel,
plástico, vidro e latas de alumínio, que representam cerca de 35% do lixo
paulistano), não precisariam necessariamente parar em aterros e lixões, onde
acabam misturados a resíduos inaproveitáveis.
Se para o
descarte de materiais secos o destino alternativo é a reciclagem, para o de
material orgânico um caminho que vem ganhando popularidade é o da compostagem.
O processo tenta reproduzir o fenômeno natural de decomposição, que “quebra”
esse material orgânico transformando-o em compostos ricos em nutrientes, úteis
para o desenvolvimento de plantas.
Em
situação um pouco diferente da reciclagem, já adotada por diversos municípios
por meio de políticas públicas para destinação adequada de materiais
reaproveitáveis, a compostagem no Brasil ainda engatinha. Em diversas cidades
do mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, a triagem por
domicílios ou empresas do lixo em recicláveis, orgânicos e rejeitos é
obrigatória. Além de contar com centrais de compostagem, nesses locais é comum
também o incentivo à construção de composteiras caseiras.
Compostagem
pode ser realizada tanto em casa, usando restos de alimentos de consumo
doméstico, como na agricultura para a produção de adubo orgânico
De olho
nessa tendência global, a cidade de São Paulo adotou em 2014 um programa de
distribuição de composteiras a 2 mil domicílios (veja neste mapa colaborativo) e concluiu, em dezembro de 2015, a primeira central de compostagem
pública do município, voltada para a coleta de orgânicos descartados em feiras
livres. Segundo a prefeitura, a cidade poderia reduzir de 10% a 20% a
quantidade de lixo enviada a aterros sanitários locais.
O que
exatamente é compostagem?
É a
técnica de transformação, por meio da ação de micro-organismos e minhocas, de
matéria orgânica em um composto rico em húmus e nutrientes minerais (como
carbono e nitrogênio). Sua finalidade é dar destino sustentável ao que seria
lixo comum, evitando danos ao meio ambiente e ainda produzindo adubo e fertilizante
naturais. Pode ser realizada tanto em casa, usando restos de alimentos de
consumo doméstico, como na agricultura para a produção de adubo orgânico.
FOTO: ANÁLIA BERTUCCI/REPRODUÇÃO/CC
2.0
COMPOSTO RESULTANTE DO PROCESSO PODE SER USADO COMO ADUBO
Fazendo
uma composteira em casa
Há
inúmeras formas de construir um sistema caseiro de compostagem. Em geral, a
maioria envolve o uso de três recipientes verticalmente interligados
(idealmente caixas plásticas, mas que podem ser baldes, garrafas ou potes
grandes, etc), terra preta e, opcionalmente, minhocas (agentes que aceleram a
decomposição). A única ferramenta necessária é uma furadeira.
Os dois
recipientes superiores são chamados de “caixas digestoras”. É nelas que o
processo de descarte de material orgânico e decomposição é feito. Elas devem
possuir furos na base (de cerca de 1 cm), e outros menores nas laterais e na
tampa para ventilação. O terceiro recipiente será o responsável pela coleta do
chorume resultante da produção de húmus. De cor escura, o líquido pode ser
utilizado como fertilizante para plantas, após diluído em água (em uma
proporção de 1:10). Por isso, recomenda-se a instalação de uma pequena torneira
na lateral inferior da caixa.
VEJA UM SISTEMA DE COMPOSTEIRA CASEIRA:
Manejo e cuidados
Mantenha sua
composteira em um local arejado e protegida do sol. Na caixa do topo, cubra o
fundo com terra preta. Em seguida, coloque as minhocas (recomenda-se o uso das
conhecidas como “minhocas vermelhas” ou “californianas”). A partir desta etapa,
basta acrescentar constantemente os restos de alimentos picados (veja
abaixo o que pode e o que não pode) em pequenos montes na base da caixa, sem
nunca deixar de cobri-los proporcionalmente com o dobro de matéria “marrom”
(folhas, gramas e palha secas, além de serragem, papelão, jornal etc). Isso
evita a atração de insetos e garante o equilíbrio de nitrogênio e carbono.
Após
completar a caixa digestora do topo, troque-a de lugar com a caixa digestora do
meio e repita o processo. Passado cerca de um mês, o trabalho de decomposição e
produção de húmus pelas minhocas já deve estar concluído na primeira caixa.
Para coletar o adubo sem perder as minhocas (muitas delas já terão migrado para
a caixa superior em busca de novos alimentos), coloque a caixa no sol (como não
gostam de luz, elas irão para o fundo) e “raspe” o húmus tomando cuidando para
não remover a camada inicial de terra preta. Agora basta trocar de lugar com a
caixa de cima e recomeçar o ciclo. O chorume deve ser coletado regularmente.
O
que pode ser colocado na caixa:
- Flores,
plantas, frutas e cascas (exceto cítricas)
- Legumes
e verduras
- Pedaços
de pão e bolacha
- Filtros
de papel, borra de café e chás
- Alimentos
cozidos (sem tempero) e casca de ovo
- Papel
toalha usado, jornal e papelão picado
O que não pode ser colocado:
- Carne
e comidas temperadas
- Líquidos
(laticínios, caldos, etc), óleo e gordura
- Papel
higiênico usado e fezes
- Madeiras
tratadas e compensados
- Ossos
e espinhas
- Remédios
É nojento, fede ou atrai moscas?
O programa de compostagem da capital
paulista (Composta São Paulo) perguntou aos cidadãos participantes
sobre dificuldades encontradas após um ano usando composteiras em casa.
Presença de moscas (67%) e “nojo” (7%) foram duas delas. No entanto, após
buscarem informações sobre o tema, a maioria (60% e 85%, respectivamente)
conseguiu lidar com o problema. No caso do “nojo”, usar luvas para espalhar as
minhocas e garfos de jardim para mexer a terra pode ajudar.
O mantra dos
defensores da compostagem é: composteira não fede, nem atrai moscas. Para que
isso aconteça, no entanto, é necessário seguir algumas recomendações.
Três
dicas para sua composteira:
MANTENHA...
...o sistema protegido do sol, em
lugar arejado, com a tampa da primeira caixa fechada e garanta a ventilação nas
caixas digestoras através de furos laterais e remexendo seu conteúdo após 15
dias de compostagem.
PRESTE ATENÇÃO...
...à proporção entre matéria seca
(como serragem) e matéria úmida (por exemplo, casca de banana). A primeira deve
sempre ser o suficiente para cobrir completamente os restos de alimentos. Isso
evita mau cheiro e, por consequência, a presença de larvas e moscas.
NÃO MISTURE...
... qualquer dos elementos presentes
na lista de orgânicos proibidos (acima), pois eles podem causar mau cheiro e
matar as minhocas.
O que faço com o que
produzir?
Ao fim do processo, toda a matéria
orgânica se transforma em composto sólido rico em nutrientes que, como vimos,
deve ser retirado da composteira e pode ser usado como adubo em vasos ou
terrenos com plantas.
Já o chorume (ou biofertilizante)
retirado da terceira caixa deve ser diluído em água (uma porção de chorume para
nove de água) e pode ser usado na rega ou ainda borrifado nas folhas.
Mas eu não tenho
plantas em casa...
A compostagem é uma prática
recomendável mesmo para aqueles que não têm interesse em fazer uso do húmus ou
do biofertilizante resultantes do processo. Nestes casos, há algumas saídas. A
prática mais comum é a doação a familiares e amigos que tenham plantas. A
segunda é o repasse para condomínios, escolas e comércios com jardins.
Por fim, é possível se aliar a
projetos de hortas comunitários perto da sua casa. Alguns municípios listam as
hortas locais no site da prefeitura, mas há também mapas colaborativos na
internet que podem ajudar na tarefa, como o internacional Falling Fruit e o Mapas Coletivos.
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