Para
ele, a viagem é a realização de um "sonho de criança".
"Sempre quis me relacionar com as ciências espaciais. O que
não podia imaginar era poder desenvolver isso. Sempre fui apaixonado pelo
universo. Além disso, a vida, o processo químico que conhecemos como vida, me
intrigava muito, e o fato de os cientistas não entrarem em acordo sobre o que
ela é".
Gómez conciliou as duas coisas e se envolveu com o Centro de
Astrobiologia da Espanha, em colaboração com o Instituto de Astrobiologia da
Nasa (agência espacial americana).
"Envolvi-me em projetos espaciais, estudando a
habitabilidade, e acabei em pesquisas sobre a vida em ambientes extremos",
afirma Gómez, sobre como foi parar nesse ponto da África em que o movimento das
placas tectônicas está causando uma ardente depressão.
Chaminés amarelas de sulfato e óxidos de ferro vermelhos |
Vida no limite
Gómez queria "estudar a vida
desde o ponto de vista dos limites: em qual momento aparece e quanto
suporta".
"Isso me levou ao Atacama, à
Antártica, ao Ártico e agora à Etiópia, que são tão extremos que parecem outros
planetas. O passo seguinte é verificar se realmente existe a possibilidade de
vida fora da Terra. Podemos encontrá-la em Marte, por exemplo? E se
encontrarmos, vamos reconhecê-la?", disse o pesquisador à BBC Mundo, o
serviço em espanhol da BBC.
Ou seja: apesar de ter os pés na Terra - em brasas ou congelada -, Gómez
vive com a mente em outro mundo. "Certo, certo", diz ele, aos risos.
Pesquisadores coletam amostras de poços ricos em cobre que se formam entre depósitos de sulfato |
O
astrobiólogo e equipe se hospedaram em um povoado da etnia afar, último ponto
habitado na região, muito próximo à fronteira com a Eritreia.
"É uma região completamente desabitada, mas é preciso ir
com seguranças, porque as fronteiras estão próximas e a situação é
complicada."
Até nesse deserto, a ameaça humana está presente. E não é o
único risco que a equipe tem que enfrentar.
"Não
se pode respirar as emissões de enxofre, então tínhamos que sair quando o vento
trazia essa substância."
Vapor de enxofre e cloro cobre os depósitos de sal ricos em enxofre |
O
trabalho se deu em uma condição "multiextrema": temperaturas elevadas,
pH muito ácido, alta carga de metais. "Realmente muito interessante,
não?", brinca Gómez.
O resultado final do trabalho ainda está por vir, mas os
primeiros achados convenceram Gómez de que há vida por lá.
"Onde há água, há vida, quaisquer sejam as condições
ambientais."
O amarelo do enxofre, o vermelho do ferro e o verde do cobre embelezam a paisagem, mas são sinais de vida? |
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