segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

LAUDO CONFIRMA VAZAMENTO DE REJEITOS TÓXICOS DE MINERADORA NO PARÁ

Comunidade Vila Nova, que fica nos fundos da empresa Hydro, tem sofrido com os efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios próximos a comunidade

Comunidade Vila Nova, que fica nos fundos da empresa Hydro, tem sofrido com os efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios próximos a comunidade

Técnicos do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentaram hoje (22) laudo comprovando que um depósito de resíduos da empresa mineradora Hydro Alunorte, localizado em Barcarena, região metropolitana de Belém (PA), transbordou no último fim de semana, despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. Ainda de acordo com o documento, o vazamento coloca em risco a saúde de moradores de, ao menos, três comunidades próximas.

O instituto recomenda que seja fornecida água potável para a população das comunidades de Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba, que utilizam poços artesianos rasos para abastecimento d'água. Isso porque a análise de amostras do material colhidas no local aponta a presença de níveis elevados de chumbo, alumínio, sódio e outras substâncias prejudiciais à saúde humana e animal. As conclusões do laudo contrariam informações divulgadas nos últimos dias pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e pela empresa, que negam qualquer anormalidade.

O instituto foi acionado pelos ministérios públicos do Pará (MP-PA) e Federal (MPF) para analisar se os reservatórios em que a empresa armazena toneladas de resíduos do processamento de bauxita tinham se rompido ou transbordado. Na inspeção, os técnicos não identificaram indícios de rompimento ou danos estruturais nos reservatórios, mas concluíram que estes estão operando no limite e que, com as chuvas dos últimos dias, parte do material vazou, atingindo igarapés próximos.

Segundo o pesquisador em saúde pública Marcelo Oliveira Lima, os reservatórios da empresa transbordaram não apenas em virtude do volume de chuvas, mas também porque a empresa não foi capaz de tratar todo os seus efluentes. Com o transbordamento, a área interna da empresa foi usada para escoamento dos efluentes que, posteriormente, foram carreados pelas chuvas ou irregularmente lançados no meio ambiente.

Falta de alertas

Em seu relatório, os técnicos sugerem a criação de um plano de emergência que permita o monitoramento diário da situação, com a emissão de alertas à população quando necessário. "Percebemos que a população está vulnerável. Os sistemas de alertas ainda são bem falhos. Não há um plano de emergência efetivo. E, embora a Secretaria Municipal de Meio Ambiente esteja ajudando bastante a estas comunidades, é uma instituição que não tem condições tecnológicas de oferecer uma resposta rápida", acrescentou Lima.

Ainda de acordo com o pesquisador, moradores das três comunidades afetadas continuam denunciando o vazamento de resíduos tóxicos. E, como a previsão é de que continue a chover forte na região, os técnicos do Instituto Evandro Chagas alertam: os moradores das comunidades próximas estão em risco. "Não sabemos o que pode ocorrer com estas comunidades, com a intensificação das chuvas", acrescentou Lima.

O vazamento dos dejetos tóxicos foi denunciado por moradores de Barcarena, que notaram a alteração na cor da água de igarapés e de um rio. Segundo Petronilo Progênio Alves, a informação de que as bacias haviam transbordado começou a circular entre as comunidades no último sábado (17). "Estamos tentando achar uma solução para este problema, que é contínuo. Já houve vazamentos piores, que prejudicaram muito os rios e igarapés da região. A preocupação maior da população é que ocorra um desastre como o de Mariana, em Minas Gerais [maior desastre ambiental ocorrido no Brasil, quando houve o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, provocando a destruição de povoados, da calha de rios e a morte de 19 pessoas]".

Em função das denúncias, o Ministério Público do Estado do Pará instaurou dois inquéritos, um pela Promotoria de Justiça de Barcarena, que vai apurar o suposto vazamento de rejeitos na Hydro Alunorte e seus impactos ao meio ambiente; e outro pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, que vai apurar os possíveis impactos socioambientais do suposto vazamento, especialmente os que podem ter afetado comunidades rurais e ribeirinhas.

Negativa de vazamento

Logo após o assunto se tornar público, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a Hydro AluNorte se apressaram em descartar qualquer anormalidade. Já na terça-feira (20), a secretaria divulgou nota garantindo que "as inspeções técnicas realizadas em conjunto com outros órgãos confirmaram que não houve rompimento e nem transbordamento da chamada 'lama vermelha' do depósito da Hydro". O próprio secretário de Meio Ambiente, Luiz Fernandes Rocha, endossou que não havia indícios de vazamentos de rejeitos.

A empresa, por sua vez, divulgou duas notas entre os dias 19 e 21 afirmando que, passadas as chuvas, "as áreas de depósitos de resíduos operavam normalmente, sem vazamentos ou rompimentos". Na nota do dia 21, a empresa chega a citar a visita de técnicos do Instituto Evandro Chagas para atestar a segurança de seus reservatórios: "As diversas vistorias técnicas feitas na área pelas autoridades competentes - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Barcarena (Semade), Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Abaetetuba (Semea), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Ibama, Instituto Evandro Chagas e Centro de Perícias Científicas Renato Chaves - atestaram que não houve rompimento dos depósitos".

Procurada pela reportagem para comentar o teor do relatório preliminar apresentado pelo Instituto Evandro Chagas, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente ainda não se manifestou. A Hydro AluNorte informou que precisa analisar o material antes de se pronunciar sobre o assunto.
Amanhã (23), deputados que integram uma comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para averiguar o risco de vazamentos em reservatórios existentes em Barcarena visitam a cidade. Integram o grupo, os deputados federais Edmilson Rodrigues (PSOL/PA), Arnaldo Jordy (PPS/PA), Delegado Éder Mauro (PSD/PA) e Elcione Barbalho (PMDB/PA).

Fonte: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/02/23/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-toxicos-de-mineradora-no-para.htm
Acesso: 26 fev. 2018.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

EMPRESA JAPONESA DESENVOLVE PILHA QUE NÃO DANIFICA O MEIO AMBIENTE

Pilha_bateria_energia (Foto: Pixabay)

A companhia japonesa Nippon Telegraph & Telephone (NTT) anunciou nesta segunda-feira que desenvolveu uma pilha ecológica que não danifica o meio ambiente quando é desprezada na terra, graças aos seus componentes de origem natural.

Ao contrário das pilhas convencionais, que incluem metais raros de difícil reciclagem e ligas de metais de zinco contaminante, a nova pilha é feita a partir de componentes que são encontrados nos adubos e elementos naturais para que possa "retornar à terra" de forma segura, explicou NTT em comunicado.

Para colocar a toda prova sua segurança, a empresa fez um experimento no qual enterrou fragmentos da pilha usada na terra de quatro vasos em proporções diferentes (desde 0,25 a um grama) e constatou que não afetaram negativamente o crescimento do vegetal, como acontece com os fragmentos de pilhas convencionais.

A companhia japonesa de telecomunicações seguirá pesquisando para aperfeiçoar a nova pilha, dado que atualmente tem uma capacidade limitada para sua comercialização.

A empresa realizará demonstrações da nova tecnologia na próxima quinta-feira, durante um fórum de pesquisa e desenvolvimento que organizará entre 22 e 23 de fevereiro.

A NTT procura ampliar o desenvolvimento de componentes ecológicos e disse que também planeja desenvolver no futuro sensores biodegradáveis que possam ser desprezados na terra sem danificar o meio ambiente.

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/02/empresa-japonesa-desenvolve-pilha-que-nao-danifica-o-meio-ambiente.html
Acesso: 21 fev. 2018.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

GERAÇÃO ANUAL DE LIXO ELETRÔNICO PASSA DE 40 MILHÕES DE TONELADAS


Montante descartado poderia gerar US$ 55 bilhões em materiais reaproveitáveis.
Montante descartado poderia gerar US$ 55 bilhões em materiais reaproveitáveis. (DarkMediaMotion/Thinkstock)

Em 2016, o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, 3,3 milhões de toneladas (8%) a mais do que em 2014. O montante equivale ao peso de quase 4.500 torres Eiffel.

A parte indigesta é que apenas 20%  ou 8,9 milhões de toneladas  do montante descartado foi reciclado. Se continuarmos nesse ritmo, a produção de “sucata pós-moderna” pode chegar a 52,2 milhões de toneladas em 2021.

Os dados são do Global E-waste Monitor 2017, relatório internacional elaborado pela Universidade das Nações Unidas (UNU) em parceria com União Internacional das Telecomunicações (UIT) e a ISWA – International Solid Waste Association (Associação Internacional de Resíduos Sólidos).

Computadores, celulares e outros gadgets descartados como lixo são ricos depósitos de ouro, prata, cobre, platina entre outros materiais de valor. O estudo da ONU estima que todo o lixo eletrônico gerado em 2016 poderia gerar US$ 55 bilhões em valor de materiais reaproveitáveis.

Ao invés de serem reciclados, esses materiais acabam em lixões e aterros. Resíduos eletrônicos representam um risco alto e crescente para o meio ambiente e a saúde humana. Uma das regiões que mais sofre com a contaminação de metais pesados é Agbogbloshie, em Gana, que é justamente uma das principais áreas de processamento de lixo eletrônico na África e está entre os lugares mais tóxicos do mundo, em um levantamento da organização ambiental Blacksmith Institute.

Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é complexo, caro e exige pessoal capacitado. Na maior parte do tempo, como mostra o estudo da ONU, não é isso o que ocorre. Através de processos de reciclagem informais, metais pesados, como o chumbo, são frequentemente liberados no meio ambiente.

Avanços ocorrem, mas a passos lento. O estudo chama atenção para o avanço nas legislações sobre resíduos eletrônicos. Atualmente, 67 países têm regulação nesse sentido, 44% a mais que em 2014. Mas leis sozinhas não dão conta do desafio, é preciso  fiscalizar a cadeia de produção e descarte, além de estimular a reciclagem adequada desses materiais. E, claro, também cabe a nós, consumidores, realizarmos compras mais conscientes e descarte adequado.

Fonte: https://exame.abril.com.br/mundo/geracao-anual-de-lixo-eletronico-passa-de-40-milhoes-de-toneladas/
Acesso: 14 fev. 2018.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

CIDADE DO CABO PODE SE TORNAR 1º GRANDE CENTRO URBANO SEM ÁGUA

Com quase 4 milhões de habitantes, cidade sul-africana se aproxima do "Dia Zero", quando nem mais uma gota de água potável verterá das torneiras

Já pensou em viver com apenas 25 litros de água por dia para suprir todas suas necessidades de higiene, alimentação e tarefas domésticas? Dias de secura que remetem a um futuro distópico estão se aproximando dos cerca de 3,7 milhões de habitantes da região metropolitana da Cidade do Cabo, segunda maior cidade da África do Sul.

Por comparação, um morador de São Paulo, por exemplo, utiliza em média 187,97 litros por dia, enquanto, para a ONU (Organização das Nações Unidas), 110 litros de água por dia são suficientes para atender as necessidade básicas de uma pessoa.

Na Cidade do Cabo, porém, esses números beiram o luxo. Diante da seca histórica que castiga a região, as autoridades locais recomendam que a população reduza o consumo atual, de 85 litros de água por dia, para 50 litros de água, de forma a poupar o recurso escasso.

Se a situação das reservas que abastecem a cidade caírem para 13,5%, as autoridades começarão a desligar o fornecimento em áreas residenciais. Com a torneira seca, a população só poderá recorrer a 200 pontos de coleta disponibilizados na cidade para receber apenas 25 litros de água por dia.

Mantido o ritmo atual de consumo, isso deve acontecer entre os dias 12 e 16 de Abril. Embora a data exata dependa do clima e dos padrões de consumo nos próximos meses, ela já tem nome: “Dia Zero”. Se o dia fatídico chegar, a Cidade do Cabo se tornará o primeiro grande centro urbano do mundo a ficar sem água.

Fila para pegar água

Os seis maiores reservatórios da cidade operavam com 25,8% de sua capacidade em 02 de fevereiro. A reserva de Theewaterskloof – o maior reservatório e fonte de aproximadamente metade da água da cidade – está na pior situação, com o nível da água em apenas 13% da capacidade.

Onde outrora a água era abundante, resta apenas um magro curso hídrico cercado de uma paisagem árida, como revela a imagem abaixo feita por satélites da agência espacial americana Nasa.

Segundo as autoridades locais, haverá seções separadas para acesso de pedestres e veículos aos pontos de coleta, bem como acesso para aqueles que coletam em nome de grupos vulneráveis. Mas não há garantias para agricultores e trabalhadores agrícolas. A indústria vitivinícola da África do Sul emprega cerca de 300 mil pessoas e forma a espinha dorsal da economia rural.

Desligar o sistema de distribuição significa não ter água saindo da torneira de casa para realizar tarefas simples e essenciais, como tomar banho, dar descarga no banheiro e cozinhar. Temendo um acirramento da tensão social em face da gravidade da crise, a África do Sul usará suas forças militares para proteger o abastecimento de água e evitar conflitos.

Placa alerta sobre restrições de água na Cidade do Cabo

A extrema escassez de água na cidade reflete três anos consecutivos de seca, associados a um boom populacional e a divisões políticas. Entre 1995 e 2018, a população da Cidade do Cabo aumentou cerca de 80%. Durante o mesmo período, a capacidade de armazenamento das barragens aumentou apenas 15%.

Em 2007, o Departamento Nacional de Água e Saneamento emitiu um aviso sobre o abastecimento de água da região dizendo que seriam necessária novas fontes de água até 2015.

Em resposta ao alerta, as autoridades locais iniciaram uma forte campanha de combate às perdas nas redes de distribuição, de gerenciamento de pressão, substituição de medidores de água, além de programas de conscientização social para reduzir o desperdício de água, a fim de tornar mais racional todo o fornecimento de água.

A estratégia foi eficaz e a cidade atingiu seu objetivo de redução de consumo três anos antes de 2015, garantindo um suprimento seguro para a população até pelo menos o ano de 2019, com base na precipitação e uso normal do recurso.

Os esforços pela eficiência no uso da água vistos na cidade, porém, não ecoaram no campo. Conforme observa o pesquisador David W. Olivier, do Instituto de Pesquisa de Mudanças Globais da Universidade de Witwatersrand, as cidades não têm o poder de fazer alocações de água para a agricultura. Isso é feito pelo governo nacional.

Na contramão das iniciativas de prevenção e economia adotadas na cidade, “o Departamento Nacional de Água e Saneamento não tomou medidas para reduzir o uso agrícola da água em 2015/2016”, escreve Olivier em análise publicada no site The Conversation.

Em última instância, o pesquisador aponta que a falta de articulação na gestão hídrica, alimentada segundo ele por divergências partidárias, “impulsionou a demanda por água além da capacidade do sistema de abastecimento” na região.

Multidão faz fila para buscar água em um dos 200 pontos de coleta na cidade

Com a sequência de secas severas nos últimos anos, que surpreendeu os meteorologistas, o sistema colapsou. Embora a cidade já tenha vivido momentos de seca em anos passados, geralmente o martírio terminava com a chegada da temporada de chuvas, o que não ocorreu agora, uma “surpresa” que sinaliza os riscos que as mudanças climáticas representam para as sociedades humanas.

“Este deve ser um alerta para autoridades da cidade e governos nacionais em todo o mundo”, diz o Financial Times . “Muitas das maiores cidades do mundo são extremamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas – secas mais longas, chuvas mais pesadas, aumento do nível do mar, incêndios florestais mais ferozes, piora da poluição do ar e ondas de calor”.

Na tentativa de conter a crise hídrica, a cidade corre contra o tempo para implementar projetos de reuso de água e novos pontos para retirada de água subterrânea. Dada a severidade da seca e incerteza em relação às chuvas nos próximos meses, o governo local também recorre a projetos mais temporários — e caros –, como a construção de três usinas de dessalinização da água do mar, vinculadas a um contrato de apenas 24 meses com a empresa responsável pela construção e operação.
Embora necessárias, intervenções tecnológicas não dão conta sozinhas de mitigar a crise, a população também precisa colaborar. Segundo a mídia local, com base nos dados oficiais, apenas cerca de 55% dos residentes da cidade estão realmente aderindo à redução do consumo proposto, de 50 litros por dia.

Nos lugares onde a economia é menor, a pressão da água está sendo diminuída para reduzir o desperdício e regular o consumo. Para muitos sul-africanos, porém, a torneira seca já é uma realidade, o que dá origem a longas filas nos postos de coleta, uma imagem que ameaça se tornar cada vez mais corriqueira em tempos de mudanças climáticas e descaso com o recurso mais precioso para a vida.

Nível do reservatório de água

Fonte: https://exame.abril.com.br/mundo/cidade-do-cabo-pode-se-tornar-1o-grande-centro-urbano-sem-agua/
Acesso: 04 fev. 2018.