Comunidade
Vila Nova, que fica nos fundos da empresa Hydro, tem sofrido com os
efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios próximos a
comunidade
Técnicos do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentaram hoje (22) laudo comprovando que um depósito de resíduos da empresa mineradora Hydro Alunorte, localizado em Barcarena, região metropolitana de Belém (PA), transbordou no último fim de semana, despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. Ainda de acordo com o documento, o vazamento coloca em risco a saúde de moradores de, ao menos, três comunidades próximas.
O instituto recomenda que seja fornecida
água potável para a população das comunidades de Bom Futuro, Vila Nova e
Burajuba, que utilizam poços artesianos rasos para abastecimento
d'água. Isso porque a análise de amostras do material colhidas no local
aponta a presença de níveis elevados de chumbo, alumínio, sódio e outras
substâncias prejudiciais à saúde humana e animal. As conclusões do
laudo contrariam informações divulgadas nos últimos dias pela Secretaria
Estadual do Meio Ambiente e pela empresa, que negam qualquer
anormalidade.
O instituto foi acionado pelos ministérios
públicos do Pará (MP-PA) e Federal (MPF) para analisar se os
reservatórios em que a empresa armazena toneladas de resíduos do
processamento de bauxita tinham se rompido ou transbordado. Na inspeção,
os técnicos não identificaram indícios de rompimento ou danos
estruturais nos reservatórios, mas concluíram que estes estão operando
no limite e que, com as chuvas dos últimos dias, parte do material
vazou, atingindo igarapés próximos.
Segundo o pesquisador em
saúde pública Marcelo Oliveira Lima, os reservatórios da empresa
transbordaram não apenas em virtude do volume de chuvas, mas também
porque a empresa não foi capaz de tratar todo os seus efluentes. Com o
transbordamento, a área interna da empresa foi usada para escoamento dos
efluentes que, posteriormente, foram carreados pelas chuvas ou
irregularmente lançados no meio ambiente.
Falta de alertas
Em seu relatório, os técnicos sugerem a criação de um plano de
emergência que permita o monitoramento diário da situação, com a emissão
de alertas à população quando necessário. "Percebemos que a população
está vulnerável. Os sistemas de alertas ainda são bem falhos. Não há um
plano de emergência efetivo. E, embora a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente esteja ajudando bastante a estas comunidades, é uma instituição
que não tem condições tecnológicas de oferecer uma resposta rápida",
acrescentou Lima.
Ainda de acordo com o pesquisador, moradores
das três comunidades afetadas continuam denunciando o vazamento de
resíduos tóxicos. E, como a previsão é de que continue a chover forte na
região, os técnicos do Instituto Evandro Chagas alertam: os moradores
das comunidades próximas estão em risco. "Não sabemos o que pode ocorrer
com estas comunidades, com a intensificação das chuvas", acrescentou
Lima.
O vazamento dos dejetos tóxicos foi denunciado por
moradores de Barcarena, que notaram a alteração na cor da água de
igarapés e de um rio. Segundo Petronilo Progênio Alves, a informação de
que as bacias haviam transbordado começou a circular entre as
comunidades no último sábado (17). "Estamos tentando achar uma solução
para este problema, que é contínuo. Já houve vazamentos piores, que
prejudicaram muito os rios e igarapés da região. A preocupação maior da
população é que ocorra um desastre como o de Mariana, em Minas Gerais
[maior desastre ambiental ocorrido no Brasil, quando houve o rompimento
de uma barragem da mineradora Samarco, provocando a destruição de
povoados, da calha de rios e a morte de 19 pessoas]".
Em função
das denúncias, o Ministério Público do Estado do Pará instaurou dois
inquéritos, um pela Promotoria de Justiça de Barcarena, que vai apurar o
suposto vazamento de rejeitos na Hydro Alunorte e seus impactos ao meio
ambiente; e outro pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária,
que vai apurar os possíveis impactos socioambientais do suposto
vazamento, especialmente os que podem ter afetado comunidades rurais e
ribeirinhas.
Negativa de vazamento
Logo
após o assunto se tornar público, a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e a Hydro AluNorte se apressaram em descartar qualquer
anormalidade. Já na terça-feira (20), a secretaria divulgou nota
garantindo que "as inspeções técnicas realizadas em conjunto com outros
órgãos confirmaram que não houve rompimento e nem transbordamento da
chamada 'lama vermelha' do depósito da Hydro". O próprio secretário de
Meio Ambiente, Luiz Fernandes Rocha, endossou que não havia indícios de
vazamentos de rejeitos.
A empresa, por sua vez, divulgou duas
notas entre os dias 19 e 21 afirmando que, passadas as chuvas, "as áreas
de depósitos de resíduos operavam normalmente, sem vazamentos ou
rompimentos". Na nota do dia 21, a empresa chega a citar a visita de
técnicos do Instituto Evandro Chagas para atestar a segurança de seus
reservatórios: "As diversas vistorias técnicas feitas na área pelas
autoridades competentes - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Sustentabilidade (Semas), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Econômico de Barcarena (Semade), Secretaria Municipal de
Meio Ambiente de Abaetetuba (Semea), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros,
Ibama, Instituto Evandro Chagas e Centro de Perícias Científicas Renato
Chaves - atestaram que não houve rompimento dos depósitos".
Procurada pela reportagem para comentar o teor do relatório preliminar
apresentado pelo Instituto Evandro Chagas, a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente ainda não se manifestou. A Hydro AluNorte informou que precisa
analisar o material antes de se pronunciar sobre o assunto.
Amanhã (23), deputados que integram uma comissão externa criada pela
Câmara dos Deputados para averiguar o risco de vazamentos em
reservatórios existentes em Barcarena visitam a cidade. Integram o
grupo, os deputados federais Edmilson Rodrigues (PSOL/PA), Arnaldo Jordy
(PPS/PA), Delegado Éder Mauro (PSD/PA) e Elcione Barbalho (PMDB/PA).
Fonte: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/02/23/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-toxicos-de-mineradora-no-para.htm
Acesso: 26 fev. 2018.
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