SE NÃO HÁ MEIO AMBIENTE, NÃO HÁ ECONOMIA
"Embora em
seus modelos convencionais a economia tradicional faça questão de não
contemplar a moldura ou restrições ambientais, pois a visão predominante do
sistema econômico como um todo enaltece loas ao fluxo circular da riqueza,
imaginando, com isso, uma economia como sendo um sistema isolado, como se fosse
um corpo humano dotado apenas do aparelho circulatório, não há como negar o
enorme grau de dependência da economia em relação ao ecossistema natural finito
(meio ambiente), uma vez que a natureza fundamental da economia é extrair,
produzir e consumir", escreve Marcus Eduardo de Oliveira,
economista, especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela
USP.
Segundo ele,
"o futuro da vida – e especialmente, da vida humana – na Terra, dependerá
do rumo que se der hoje à economia. Se nosso objetivo maior for pela
continuidade da vida de nossa espécie devemos seguir o receituário propugnado
por Georgescu-Roegen: “um dia a humanidade terá de compatibilizar desenvolvimento com
retração econômica”. Caso contrário, pereceremos".
Eis o artigo.
No caminho da prosperidade, as economias modernas devastaram boa parte
dos recursos naturais. Em nome do crescimento econômico, a atividade industrial
dilapidou os serviços ecossistêmicos (responsáveis pela manutenção da
biodiversidade), desfigurando a natureza em várias frentes. Indiscutivelmente,
mudanças climáticas foram – e estão sendo – provocadas pelo “homem-econômico”.
O objetivo? Fazer a economia crescer exponencialmente produzindo em excesso
para atender o consumo exagerado. O resultado? O ambiente ameaçado pelo consumo
excessivo. A consequência? Depleção ambiental.
Inequivocamente, produção econômica implica destruição e degradação do
meio ambiente. Por si só, isso já é o bastante para orientar à tomada de
decisão rumo à elaboração de um novo paradigma econômico voltado às ordens
ecológicas; não às mercadológicas.
Se não mudarmos o
atual paradigma econômico é a própria economia que cada vez mais se joga no
abismo da destruição, tendo em vista que, como bem lembrou Lester Brown, “a economia
depende do meio ambiente. Se não há meio ambiente, se tudo está destruído, não
há economia”.
Nessa mesma linha de
análise, Clóvis Cavalcanti nos diz que “não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico,
mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”. “Sem recuperar o meio
ambiente, não se salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio
ambiente”, contextualizou o ecologista norte-americano Berry Commoner (1917-2012).
Embora em seus
modelos convencionais a economia tradicional faça questão de não contemplar a
moldura ou restrições ambientais, pois a visão predominante do sistema econômico
como um todo enaltece loas ao fluxo circular da riqueza, imaginando, com isso,
uma economia como sendo um sistema isolado, como se fosse um corpo humano
dotado apenas do aparelho circulatório, não há como negar o enorme grau de
dependência da economia em relação ao ecossistema natural finito (meio
ambiente), uma vez que a natureza fundamental da economia é extrair, produzir e
consumir.
É intensa a relação da economia (atividade industrial) com o meio ambiente. Não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema aberto que troca energia com o ambiente. Nessa troca, recebe energia nobre (limpa) e a devolve de forma degradada (suja).
É intensa a relação da economia (atividade industrial) com o meio ambiente. Não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema aberto que troca energia com o ambiente. Nessa troca, recebe energia nobre (limpa) e a devolve de forma degradada (suja).
Portanto,
metaforicamente, se a economia é um corpo humano, o aparelho digestivo está aí
contemplado, uma vez que recebe da natureza matéria e energia e devolve lixo,
dejetos. Reafirmando essa ideia, convém resgatar uma passagem de Nicholas Georgescu-Roegen (1906-94): “o sistema econômico
consome natureza – matéria e energia de baixa entropia – e fornece lixo –
matéria e energia de alta entropia – de volta a natureza”.
Diante disso, é de fundamental importância subordinar o crescimento aos
limites ecossistêmicos, uma vez que crescer além do “normal” é altamente
prejudicial ao meio ambiente.
Por isso, o novo
paradigma econômico precisa convergir com a ecologia, uma vez que dependemos
dessa para nossa própria sobrevivência. O desafio é ímpar: produzir mais
(bem-estar) com menos (recursos naturais). Produzir mais qualidade
(desenvolvimento), e não quantidade (crescimento). Decorre daí a máxima de que
somos, pois, dependentes do meio ambiente, contrariando assim o discurso de René Descartes (1596-1650) de que
“somos senhores e dominadores da natureza”.
Por essa ideia do filósofo francês, a economia dilapidadora dos recursos
naturais, manejada pelo “homem-econômico”, estaria agindo de forma correta em
propagar destruição, poluição e degradação ambiental, uma vez que para gerar
riqueza gera-se antes destruição natural.
O futuro da vida –
e especialmente, da vida humana – na Terra, dependerá do rumo que se der hoje à
economia. Se nosso objetivo maior for pela continuidade da vida de nossa
espécie devemos seguir o receituário propugnado porGeorgescu-Roegen: “um dia a humanidade terá de
compatibilizar desenvolvimento com retração econômica”. Caso contrário,
pereceremos.
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