EXCLUSIVO: O PERIGO DE
ESQUENTAR COMIDA EM RECIPIENTES PLÁSTICOS, NO FORNO DE MICROONDAS, É REAL
Mônica Pinto /
AmbienteBrasil
Circulam
periodicamente pela internet, em e-mails, uma advertência segundo a qual o
aquecimento de comida no forno de microondas, feito em recipientes de plástico,
libera uma substância que pode causar câncer, a dioxina.
Diferentemente do que ocorre muitas vezes nesse
tipo de mensagem, nesse caso, o risco é real e concreto. O Instituto Nacional
do Câncer, através de sua Coordenação de Prevenção e Vigilância do Câncer,
emitiu em março passado uma nota técnica sobre a dioxina, em que confirma não
só a toxicidade da substância, mas também admite seu potencial carcinogênico.
Explica a nota que “a dioxina é um composto
orgânico incolor e inodoro. É um subproduto espontâneo resultante de fenômenos
e desastres naturais como a atividade vulcânica e os incêndios florestais,
assim como da atividade do homem (indústria de plásticos, incineração,
branqueador de papel e escapamento de gases de automóvel). A dioxina se
encontra em todas as áreas onde haja atividade industrial, tanto no solo, na
água e no ar, como nos alimentos – até mesmo no leite materno. Em geral, o
risco de contato por inalação e contato dérmico é baixo”.
No aspecto alimentar, o Inca explica que “a dioxina
detectada na terra, em sedimentos e suspensa na água será absorvida pelas
plantas e subseqüentemente ingerida por animais e armazenada no tecido adiposo
deles. O consumo de tecidos animais e vegetais (incluindo as verduras) é o modo
de entrada da dioxina no corpo humano”.
Outro modo dos seres humanos terminarem a ingerindo
é justamente pelo aquecimento de plásticos contendo alimentos, o que ocorre
rotineiramente no uso do microondas.
AmbienteBrasil conversou
com a toxicologista Silvana Turci, chefe da Área de Vigilância do Câncer
relacionado ao Meio Ambiente e ao Ambiente de Trabalho do Inca. Ela explica que
a dioxina é um subproduto gerado no processo de fabricação do plástico e que, a
princípio, nem a indústria teria como aferir a qualidade da matéria-prima
quanto a essa contaminação. Isso porque, no Brasil, apenas um laboratório, da
Petrobras, tem aparato técnico nesse sentido.
Assim, qualquer plástico pode conter dioxina, desde
brinquedos a garrafas PET. Porém, em condições normais de temperatura, o
composto não é liberado. Visto que não há como ter segurança quanto à presença
ou não da dioxina num plástico específico, vale o princípio da precaução. Ou
seja, o recomendável é que nunca se aqueça alimentos no microondas em
recipientes desse material. O melhor é transferir a comida para vasilhas de
vidro que suporte o calor (temperado). Essa cautela se aplica também para as
bandejas de espuma em que são acondicionadas lasanhas e outras massas, por
exemplo.
Tal cuidado é simples e pode evitar danos sérios à
saúde. Segundo a nota técnica do Inca, a dioxina se acumula no tecido gorduroso
de animais e todos os estudos realizados com eles têm revelado o potencial
cancerígeno do composto, mesmo em baixas doses.
“É uma substância com efeito cumulativo e residual
a longo prazo. O tempo de meia vida é de, em média, 7 anos”, diz o alerta,
informando ainda que alguns estudos têm relacionado a exposição a dioxinas com
problemas reprodutivos e deficiências do sistema imunológico.
Outra advertência
Mas em relação ao
filme plástico, tão utilizado para embalar alimentos? Silvana Turci explicou a AmbienteBrasil que
esse uso também implica em riscos, embora a via de contaminação seja diferente.
O problema, segundo ela, é que os compostos tóxicos presentes no plástico –
principalmente os clorados – são solúveis em gorduras e isso faz com que sejam
atraídos por elas.
Na prática, um sanduíche com manteiga ou requeijão,
por exemplo, pode ser contaminado por esses compostos e, de novo, o melhor é
aplicar o princípio da precaução.
A mãe que envia o lanche do filho para a escola
pode lançar mão do papel alumínio, que não apresenta esse problema. Mas, para
Silvana Turci, o ideal mesmo seria a retomada de hábitos antigos, como
acondicionar o sanduíche ou a fruta em um pano de prato, num saquinho de papel
ou – para os mais adeptos da modernidade – num pedaço de papel toalha.
Desinformação
Um dos maiores
inimigos do consumidor ainda é a falta de um alerta maciço sobre esses
necessários cuidados e, também, as informações truncadas que, muitas vezes,
terminam circulando, sobretudo no território livre da internet.
Um caso clássico é o dos absorventes internos, que
foram foco de um e-mail alarmista – e equivocado –, advertindo sobre a presença
de dioxina neles. A mensagem levou a marca Tampax a garantir, em seu site, que
o produto fabricado por eles não contém a substância.
“Este é um aspecto que tomamos com a maior
seriedade e responsabilidade, pois foi comprovado em experimentos independentes
de laboratório que a dioxina (conhecida tecnicamente como
2,3,7,8-tetraclorodibenzodioxina) tem produzido câncer”, diz o texto.
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