domingo, 27 de agosto de 2017

E O CARRO ELÉTRICO NÃO NOS SALVARÁ…

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Para tentar salvar um modelo falido, indústria automobilística sugere que modelos elétricos pouparão o planeta. Por que a saída é ilusória. Quais as opções efetivas.


Por George Monbiot | Tradução: Inês Castilho

Dizemos a nós mesmos que apreciamos a eficiência. Mas criamos um sistema de transporte cujo princípio é o desperdício. Carrocerias de metal (que aumentam a cada ano), cada uma carregando uma ou duas pessoas, viajam em paralelo para os mesmos lugares. Caminhões carregando mercadorias idênticas em direções opostas passam uns pelos outros em viagens de mais de 3 mil quilômetros. Empresas concorrentes cruzam as mesmas rotas de encomendas, em vans em grande parte vazias. Poderíamos, talvez, reduzir nosso movimento de veículos em 90% sem prejuízo do serviço, e com um grande ganho em nossa qualidade de vida.

Mas contestar essa forma peculiar de insanidade é, como sinto na pele, ser considerado insano. Veja como a publicidade está dominada pelas empresas que fabricam carros, e você começa a entender o impulso para assegurar que esse sistema ilógico persista. Olhe para o poder de lobby da indústria automobilística e seu apoio na mídia, e você vê por que vários planos para enfrentar a poluição parecem destinados a fracassar.
Sugira um sistema mais simples, e você será calado por pessoas insistindo que não querem viver numa economia planificada. Mas nesse aspecto (e outros) nós já vivemos numa economia planificada. Hoje os planejadores fazem algumas pequenas cocessões para ciclistas, pedestres e carros, mas seu objetivo primordial é maximizar o fluxo de veículos privados. Ao invés de encorajar o uso mais eficiente da infraestrutura existente, eles continuam aumentando o espaço de que a ineficiência precisa para expandir-se.
A Grã-Bretanha é um exemplo. O novo programa do governo para a poluição avisa que suas próprias ações serão limitadas, “pois precisamos manter disciplina das despesas publicas”. Mas sustenta o que o Departamento de Transportes exibe como o “maior modernização de rodovias em uma geração”. Lançado em 2014, no ápice do programa de “austeridade” de David Camero, esse plano prometia “triplicar os gastos até o final da década”, com 15 bilhões de libras [mais de 60 bilhões de reais] para um projeto de mais de cem novas estradas.
Novas rodovias não resolvem congestionamentos de trânsito. Elas o exacerbam. Ao aumentar o fluxo em algumas partes da rede, geram gargalos em outras. Os governos então tentam contornar o gargalo criando um ainda pior ao longo do sistema. Não importa quantas vezes e quão poderosamente se demonstre que mais estradas resultam em mais trânsito (as primeiras descobertas foram publicadas em 1937): o programa persiste.
Nenhuma solução para os vários problemas causados por esse caos planejado pode ser executada, já que a eficiência seria injuriosa para certos interesses. O sucesso é medido pelos quilômetros viajados, ao invés de necessidades atendidas. É como medir a saúde da população pelo volume dos medicamentos que ela consome.
Fonte: https://outraspalavras.net/posts/e-o-carro-eletrico-nao-nos-libertara/

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