Physis, Cosmos,
Arché, Logos
Physis significa, no
contexto dos primeiros filósofos, o conjunto de todas as coisas naturais que
existem . A palavra também significa origem. Como os gregos da época
consideravam que tudo o que existe é natural, a physis significa
o conjunto de todas as coisas, e “o problema da physis”
é a pergunta sobre a origem e a constituição de todas as coisas que existem.
Cosmos significa
ordem, organização, e é utilizado no contexto dos primeiros filósofos para
designar a ordem que existe na physis. Cosmos é o contrário de caos. Os primeiros a usar a palavra cosmos como sinônimo de universo foram os membros
da Confraria Pitagórica.
Arché significa a fonte, a origem e a
raiz de todas as coisas da physis, de onde as
coisas vêm e para onde vão. Além disso, pode ser compreendida como o princípio
de uma coisa, que, embora intangível e indemonstrável, provê as condições de
possibilidade da coisa.
Logos significa a razão, a linguagem,
a palavra. Logos designa a razão humana,
o pensamento que busca compreender a physis; mas, pelo menos
a partir de Heráclito, logos também
pode ser interpretado como a razão universal, fixa e imutável que ordena e
organiza todas as coisas particulares e transitórias; o logos, neste sentido, é um princípio cosmológico.
Os
Pré-socraticos e a preocupação com a Physis
Com frequência se debateu a
questão de saber como foi possível à filosofia grega ter começado com os
problemas da natureza e não com os relativos ao homem. [...]
O ponto de partida dos pensadores naturalistas do
séc. VI era o problema da origem, a physis, que deu o seu nome à
totalidade do movimento espiritual e forma de especulação que originou. Isto
não é injustificado, se tivermos presente o significado originário da palavra
grega e não lhe misturarmos a moderna concepção da física. O seu interesse
fundamental era, na realidade, o que na nossa linguagem habitual denominamos
metafísica. Era a ele que se subordinavam o conhecimento e a observação física.
É certo que foi do mesmo movimento que nasceu a ciência racional da natureza.
Mas a princípio estava envolta em especulação metafísica e só
gradualmente se foi libertando dela. No conceito grego de physis,
estavam, indivisas, as duas coisas: o problema da origem – que obriga o
pensamento a ultrapassar os limites do que é dado na experiência sensorial – e
a compreensão, por meio da investigação empírica, do que deriva daquela origem
e existe actualmente. Era natural que a tendência inata dos Jónios – grandes
exploradores e observadores – para a investigação levasse as questões até ao
maior aprofundamento, onde aparecem os problemas últimos. É natural também que,
uma vez posto o problema da origem e essência do mundo, se
desenvolvesse progressivamente a necessidade de ampliar o conhecimento dos
factos e a explicação dos fenómenos particulares. [...]
Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira
como os Gregos puseram ao serviço do seu problema último – da origem e essência das
coisas – as observações empíricas que do Oriente receberam e enriqueceram pelas
suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o
reino dos mitos fundado na observação das realidades aparentes do mundo
sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo. É neste momento que assistimos
ao aparecimento da filosofia científica. É este, porventura, o feito histórico
da Grécia. É certo que foi só gradual a sua libertação dos mitos.
Porém, o simples facto de ter sido um movimento
espiritual unitário, conduzido por uma série de personalidades independentes,
mas em íntima e recíproca ligação, já demonstra o seu carácter científico e
racional. A conexão do nascimento da filosofia naturalista com Mileto, a
metrópole da cultura jónica, torna-se clara, se se reparar que os seus três primeiros
pensadores – Tales, Anaximandro e Anaxímenes – viveram no tempo da destruição
de Mileto pelos Persas (princípios do séc. V). Tão evidente como a súbita
interrupção dum elevado florescimento espiritual de três gerações, pela
irrupção brutal dum destino histórico exterior, é a continuidade do trabalho de
investigação e do tipo espiritual desta magnifica série de grandes homens, um
pouco anacronicamente designados de “escola milesiana”. O modo de propor e
resolver os problemas segue nos três a mesma direcção. Abriram o caminho e
forneceram os conceitos fundamentais à física grega de Demócrito até
Aristóteles.
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