quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Physis, Cosmos, Arché, Logos


Physis, Cosmos, Arché, Logos

Physis significa, no contexto dos primeiros filósofos, o conjunto de todas as coisas naturais que existem . A palavra também significa origem. Como os gregos da época consideravam que tudo o que existe é natural, a physis significa o conjunto de todas as coisas, e “o problema da physis” é a pergunta sobre a origem e a constituição de todas as coisas que existem.

Cosmos significa ordem, organização, e é utilizado no contexto dos primeiros filósofos para designar a ordem que existe na physisCosmos é o contrário de caos. Os primeiros a usar a palavra cosmos como sinônimo de universo foram os membros da Confraria Pitagórica.

Arché significa a fonte, a origem e a raiz de todas as coisas da physis, de onde as coisas vêm e para onde vão. Além disso, pode ser compreendida como o princípio de uma coisa, que, embora intangível e indemonstrável, provê as condições de possibilidade da coisa.

Logos significa a razão, a linguagem, a palavra. Logos designa a razão humana, o pensamento que busca compreender a physis; mas, pelo menos a partir de Heráclito, logos também pode ser interpretado como a razão universal, fixa e imutável que ordena e organiza todas as coisas particulares e transitórias; o logos, neste sentido, é um princípio cosmológico.

Os Pré-socraticos e a preocupação com a Physis

Com frequência se debateu a questão de saber como foi possível à filosofia grega ter começado com os problemas da natureza e não com os relativos ao homem. [...]

O ponto de partida dos pensadores naturalistas do séc. VI era o problema da origem, a physis, que deu o seu nome à totalidade do movimento espiritual e forma de especulação que originou. Isto não é injustificado, se tivermos presente o significado originário da palavra grega e não lhe misturarmos a moderna concepção da física. O seu interesse fundamental era, na realidade, o que na nossa linguagem habitual denominamos metafísica. Era a ele que se subordinavam o conhecimento e a observação física. É certo que foi do mesmo movimento que nasceu a ciência racional da natureza. Mas a princípio estava envolta em especulação metafísica e só gradualmente se foi libertando dela. No conceito grego de physis, estavam, indivisas, as duas coisas: o problema da origem – que obriga o pensamento a ultrapassar os limites do que é dado na experiência sensorial – e a compreensão, por meio da investigação empírica, do que deriva daquela origem e existe actualmente. Era natural que a tendência inata dos Jónios – grandes exploradores e observadores – para a investigação levasse as questões até ao maior aprofundamento, onde aparecem os problemas últimos. É natural também que, uma vez posto o problema da origem e essência do mundo, se desenvolvesse progressivamente a necessidade de ampliar o conhecimento dos factos e a explicação dos fenómenos particulares. [...]

Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram ao serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que do Oriente receberam e enriqueceram pelas suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo. É neste momento que assistimos ao aparecimento da filosofia científica. É este, porventura, o feito histórico da Grécia. É certo que foi só gradual a sua libertação dos mitos.

Porém, o simples facto de ter sido um movimento espiritual unitário, conduzido por uma série de personalidades independentes, mas em íntima e recíproca ligação, já demonstra o seu carácter científico e racional. A conexão do nascimento da filosofia naturalista com Mileto, a metrópole da cultura jónica, torna-se clara, se se reparar que os seus três primeiros pensadores – Tales, Anaximandro e Anaxímenes – viveram no tempo da destruição de Mileto pelos Persas (princípios do séc. V). Tão evidente como a súbita interrupção dum elevado florescimento espiritual de três gerações, pela irrupção brutal dum destino histórico exterior, é a continuidade do trabalho de investigação e do tipo espiritual desta magnifica série de grandes homens, um pouco anacronicamente designados de “escola milesiana”. O modo de propor e resolver os problemas segue nos três a mesma direcção. Abriram o caminho e forneceram os conceitos fundamentais à física grega de Demócrito até Aristóteles.


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