domingo, 1 de abril de 2018

RÚSSIA FINANCIA CAMPANHAS CONTRA TRANSGÊNICOS


transg

Sites de notícia em inglês do governo russo fazem campanha contra transgênicos

Uma nova pesquisa da Universidade Estadual de Iowa revelou que a Rússia financia artigos publicados na internet que questionam a segurança dos transgênicos. Conduzido pelo pesquisador Shawn Dorius, professor-assistente de sociologia, e Carolyn Lawrence-Dill, professora do Departamento de Agronomia e Genética da Universidade, o estudo foi pensado para investigar a percepção pública sobre alimentos geneticamente modificados e analisar comentários em grandes veículos de comunicação.

A pesquisa começou com uma análise dos comentários de cinco sites de grandes meios de comunicação: Fox News, CNN, Huffington Post, Breitbart News e MSNBC. Os questionamentos aos organismos seguem, mas pesquisas de opinião dizem que nos Estados Unidos 46% dos adultos não se importam sobre se um alimento é ou não transgênico e menos de 20% se sentem bem informados sobre o assunto.

Enquanto a pesquisa avançava, a imprensa noticiava a atuação dos chamados “trolls” russos nas redes sociais para influenciar as eleições dos Estados Unidos. Então, Dorius e Carolyn decidiram incluir dois sites em inglês financiados pela Rússia na pesquisa: Russia Today e Sputnik. Os pesquisadores descobriram que a palavra OGM era citada cinco vezes mais nos sites russos que nos cinco sites americanos juntos. Dos artigos relacionados aos transgênicos encontrados nos sete sites, 34% estavam no site RT e 19% estavam no Sputnik. Os dois sites de notícias são estatais e defendem os interesses do governo russo.  

Entre os sites americanos estudados, o Huffington Post produziu os artigos mais contrários aos transgênicos, seguida pela CNN, enquanto que a Fox News produziu um conteúdo mais justo e equilibrado sobre o assunto, segundo os pesquisadores. O Breitbart News apresentou pouquíssimo conteúdo sobre o tema, mas somente posições favoráveis aos transgênicos.

O RT e o Sputnik fizeram também um amplo uso de “caça-clique”, conteúdo feito para que os leitores cliquem em um link para uma outra página. Por exemplo, um artigo sobre o Zika vírus mostrava um link a um outro artigo sobre mosquitos transgênicos que poderiam causar um surto de Zika. Praticamente todos esses artigos com o termo OGMs como “caça-clique” foram publicados no RT e só foram encontrados artigos que descreviam os transgênicos como algo negativo nos dois sites russos.

“Sempre havia essa coisa estranha que você veria o termo OGM inserido de propósito como link em artigos que não tinha absolutamente nada a ver com o tópico”, disse Carolyn. “O artigo poderia ser sobre as coisas mais horríveis como pornografia infantil, ou mesmo polêmica, como aborto, e sempre havia um link sobre OGM. Então, na mente do leitor a visão se há algo colocado sempre em um ambiente negativo e então, por extensão, os OGMs deverão ser algo negativo também”.

A pesquisa não descobriu os motivos do financiamento dos russos, mas são duas teorias. Uma seria prejudicar os interesses dos Estados Unidos e promover a Rússia no mercado internacional de alimentos, uma vez que o governo russo já tem o objetivo de ser líder mundial em exportação de orgânicos.  Um segundo motivo seria uma estratégia de divisão da sociedade americana.

Os Estados Unidos são os maiores produtores do mundo de cultivos transgênicos, mas os produtos são proibidos em quase uma dúzia de países, incluindo a Rússia. Na China, onde os Estados Unidos é um dos maiores fornecedores de soja, o produtor local é proibido de cultivar soja transgênica, mas pode usar a soja geneticamente modificada importada para alimentação animal.

Fonte: http://www.agroin.com.br/noticias/10583/russia-financia-campanhas-contra-transgenicos
Acesso:  01 abr. 2018.

segunda-feira, 19 de março de 2018

AGRONEGÓCIO EXPORTA ÁGUA DOCE DO BRASIL PARA O EXTERIOR

Agronegócio exporta água doce brasil exterior

Há anos, o capital internacional tem se interessado por um dos nossos maiores recursos naturais: a água. Segundo dados da Unesco, por ano, o Brasil envia para o exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce, o que equivale a cerca de 45 milhões de piscinas olímpicas.

O capital, sobretudo internacional, há anos tem se interessado por um dos maiores recursos naturais que despomos em nosso território: a água. Do ponto de vista estratégico, esse é um dos elementos fundamentais que garantem nossa soberania, no entanto, a cada ano que passa, observamos a ganância das multinacionais, se apropriando deste bem natural tão importante pra vida.

Segundo dados da Unesco, por ano, o Brasil envia para o exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce, o que equivale a cerca de 45 milhões de piscinas olímpicas. Esse número nos coloca entre os maiores exportadores da chamada “água virtual“, um conceito que mede a quantidade de água utilizada e absorvida na produção de commodities agrícolas voltadas para a exportação.

No Brasil, a quantidade de água voltada somente para a agricultura beira os 70% do consumo total, valor bem mais alto que os 20% correspondentes à indústria e os 10% voltado para o consumo doméstico.

Entre os produtos exportados que mais utilizam água, a soja se destaca. Recentemente, o IPEA lançou um relatório sobre a “água virtual” utilizada na produção do grão. De acordo com o órgão, só em 2013, exportamos mais de 55,6 milhões de toneladas de soja, totalizando, um volume de água superior a 123 bilhões de m³.

Os principais destinos foram China (71 bilhões de m3), Países Baixos (12,8 bilhões de m3), Espanha (4,8 bilhões de m3), França (3,7 bilhões de m3), e Alemanha (3,4 bilhões de m3).

Consumo desproporcional

São diversas as formas de obtenção de água por parte das grandes empresas multinacionais que dominam o mercado do agronegócio irrigado no país.

Segundo o IBGE, no início dos anos 1960, o Brasil tinha apenas 462 mil hectares irrigados. Hoje em dia, o número é bem mais elevado, a estimativa é que mais de 6,1 milhões de hectares estejam voltados para o consumo de água para o agronegócio e com possibilidade de expansão para até 47 milhões de hectares.

Recentemente, a população de Correntina, município localizado no oeste da Bahia se revoltou ao observar a forma desproporcional a qual uma empresa vinha utilizando a água de um dos rios que cortam a região. A empresa em questão, Igarashi, de origem japonesa, consome hoje aproximadamente 100 vezes mais do que toda população do município, retirando água diretamente do Rio Arrojado, responsável por abastecer a cidade.

O ato trouxe a tona uma antiga discussão da forma com que as empresas vêm se apropriando dos rios e em alguns casos, até mesmo de nascentes.

Uma tecnologia recente vem dominando as produções irrigadas do agronegócio em todo o país, os chamados “pivôs centrais“. Esse sistema envolve uma área circular projetada para receber uma estrutura suspensa que em seu centro recebe uma tubulação que gira de forma circular. Esse processo envolve uma grande quantidade de água que na maioria dos casos é proveniente de rios, por meio de bombas.

O mapeamento nacional dos pivôs centrais indicou 19,9 mil equipamentos, em 2014, com ocupação de 1,3 milhão de hectares. Essa área é 43% superior à registrada pelo IBGE no Censo Agropecuário de 2006, quando os números indicavam 893 mil hectares.

Os sistemas estão localizados em sua maioria em áreas de cerrado e mata atlântica, respectivamente 79% e 11%, majoritariamente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Paraná e São Paulo.

Segundo Temóteo Gomes, da coordenação do Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB), na região oeste da Bahia, importante pólo de produção do agronegócio nacional, centenas de pivôs foram instalados nos últimos anos, consumindo um número absurdo de água.

Só na região de Jaborandi, temos instalados mais de 117 pivôs centrais. Em todo o Oeste da Bahia são mais de 160 mil hectares irrigados, tem empreendimentos com 12 bombas de captação de água ligadas 24h. A maioria é monocultura, grãos para exportação, nada fica pra região“, afirma Temóteo.

A “outra” ameaça do agronegócio

Além da água absorvida diretamente e entregue aos estrangeiros, o agronegócio, ao explorar a terra por meio de monoculturas, gera impactos diretos e indiretos aos ecossistemas. A forma de produção limitada a um só “produto” pode desencadear uma alteração brusca no meio ambiente, alterando o nível de chuvas, por exemplo, o que acaba diminuindo o abastecimento dos rios e nascentes, além de causar impactos sociais às populações. É o que aponta Bruno Pilon, da coordenação nacional do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores).

O maior problema é que a conta do uso da água, e o retorno da água pelo agronegócio não fecham. Além dos índices de contaminação eles retiram mais água do que conseguem colocar no solo, onde o agronegócio passa fica um rastro evidente de seca. Conseguimos observar isso de forma muito marcante nos monocultivos do eucalipto no extremo norte do ES e no sul da BA responsável por secar muitos mananciais que atendiam comunidades camponesas inteiras, o eucalipto é exportando, vai pra longe, mas a seca fica“, aponta.

Segundo ele, outro impacto profundo causado pelo agronegócio diz respeito à contaminação das nascentes pela produção intensiva com agrotóxicos.

A legislação ambiental que diz respeito ao uso dos venenos não é cumprida por eles, e mesmo se fosse sabemos que ainda iria impactar. Quem tem um cofre no peito, não tem respeito algum às fontes de água, e isso tudo vai parar no prato, ou no copo das pessoas, os componentes dos venenos não desaparecem na água, e impactam toda a vida ao seu redor, não só as famílias camponesas, mas o bioma por completo. O agronegócio vê a água assim como o solo, como um depósito de fatores, lá se tire e se coloca o que quer e quando quer e quem mais sofre com isso são as populações do campo e da cidade, da pra imaginar que quando você toma banho em sua casa pode estar também se “ensaboando” com glifosato?”, questiona.

Para Bruno, vivemos num momento delicado no que diz respeito ao consumo de água, correndo riscos graves de escassez.

Um dos impactos indiretos mais cruéis são os relacionados à morte de muitos rios e córregos, eles mudam drasticamente o mapa hidrográfico de onde se instalam e isso muitas vezes é irreversível, sendo responsável pelo fim do abastecimento de água de muitas comunidades. Esse modelo de produção não só está fardado ao fracasso, como empurra toda a humanidade com ele, a desertificação de nossos solos está em curso acelerado, e podemos chegar a um quadro irreversível, é muito contraditório viver num pais com uma das maiores reservas de água do mundo, se o modelo produtivo nos cerceia o acesso“, completa.

Fonte: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/03/agronegocio-exporta-agua-doce-brasil.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Pol%C3%ADtico%29
Acesso: 19 mar. 2018.

 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

LAUDO CONFIRMA VAZAMENTO DE REJEITOS TÓXICOS DE MINERADORA NO PARÁ

Comunidade Vila Nova, que fica nos fundos da empresa Hydro, tem sofrido com os efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios próximos a comunidade

Comunidade Vila Nova, que fica nos fundos da empresa Hydro, tem sofrido com os efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios próximos a comunidade

Técnicos do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentaram hoje (22) laudo comprovando que um depósito de resíduos da empresa mineradora Hydro Alunorte, localizado em Barcarena, região metropolitana de Belém (PA), transbordou no último fim de semana, despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. Ainda de acordo com o documento, o vazamento coloca em risco a saúde de moradores de, ao menos, três comunidades próximas.

O instituto recomenda que seja fornecida água potável para a população das comunidades de Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba, que utilizam poços artesianos rasos para abastecimento d'água. Isso porque a análise de amostras do material colhidas no local aponta a presença de níveis elevados de chumbo, alumínio, sódio e outras substâncias prejudiciais à saúde humana e animal. As conclusões do laudo contrariam informações divulgadas nos últimos dias pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e pela empresa, que negam qualquer anormalidade.

O instituto foi acionado pelos ministérios públicos do Pará (MP-PA) e Federal (MPF) para analisar se os reservatórios em que a empresa armazena toneladas de resíduos do processamento de bauxita tinham se rompido ou transbordado. Na inspeção, os técnicos não identificaram indícios de rompimento ou danos estruturais nos reservatórios, mas concluíram que estes estão operando no limite e que, com as chuvas dos últimos dias, parte do material vazou, atingindo igarapés próximos.

Segundo o pesquisador em saúde pública Marcelo Oliveira Lima, os reservatórios da empresa transbordaram não apenas em virtude do volume de chuvas, mas também porque a empresa não foi capaz de tratar todo os seus efluentes. Com o transbordamento, a área interna da empresa foi usada para escoamento dos efluentes que, posteriormente, foram carreados pelas chuvas ou irregularmente lançados no meio ambiente.

Falta de alertas

Em seu relatório, os técnicos sugerem a criação de um plano de emergência que permita o monitoramento diário da situação, com a emissão de alertas à população quando necessário. "Percebemos que a população está vulnerável. Os sistemas de alertas ainda são bem falhos. Não há um plano de emergência efetivo. E, embora a Secretaria Municipal de Meio Ambiente esteja ajudando bastante a estas comunidades, é uma instituição que não tem condições tecnológicas de oferecer uma resposta rápida", acrescentou Lima.

Ainda de acordo com o pesquisador, moradores das três comunidades afetadas continuam denunciando o vazamento de resíduos tóxicos. E, como a previsão é de que continue a chover forte na região, os técnicos do Instituto Evandro Chagas alertam: os moradores das comunidades próximas estão em risco. "Não sabemos o que pode ocorrer com estas comunidades, com a intensificação das chuvas", acrescentou Lima.

O vazamento dos dejetos tóxicos foi denunciado por moradores de Barcarena, que notaram a alteração na cor da água de igarapés e de um rio. Segundo Petronilo Progênio Alves, a informação de que as bacias haviam transbordado começou a circular entre as comunidades no último sábado (17). "Estamos tentando achar uma solução para este problema, que é contínuo. Já houve vazamentos piores, que prejudicaram muito os rios e igarapés da região. A preocupação maior da população é que ocorra um desastre como o de Mariana, em Minas Gerais [maior desastre ambiental ocorrido no Brasil, quando houve o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, provocando a destruição de povoados, da calha de rios e a morte de 19 pessoas]".

Em função das denúncias, o Ministério Público do Estado do Pará instaurou dois inquéritos, um pela Promotoria de Justiça de Barcarena, que vai apurar o suposto vazamento de rejeitos na Hydro Alunorte e seus impactos ao meio ambiente; e outro pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, que vai apurar os possíveis impactos socioambientais do suposto vazamento, especialmente os que podem ter afetado comunidades rurais e ribeirinhas.

Negativa de vazamento

Logo após o assunto se tornar público, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a Hydro AluNorte se apressaram em descartar qualquer anormalidade. Já na terça-feira (20), a secretaria divulgou nota garantindo que "as inspeções técnicas realizadas em conjunto com outros órgãos confirmaram que não houve rompimento e nem transbordamento da chamada 'lama vermelha' do depósito da Hydro". O próprio secretário de Meio Ambiente, Luiz Fernandes Rocha, endossou que não havia indícios de vazamentos de rejeitos.

A empresa, por sua vez, divulgou duas notas entre os dias 19 e 21 afirmando que, passadas as chuvas, "as áreas de depósitos de resíduos operavam normalmente, sem vazamentos ou rompimentos". Na nota do dia 21, a empresa chega a citar a visita de técnicos do Instituto Evandro Chagas para atestar a segurança de seus reservatórios: "As diversas vistorias técnicas feitas na área pelas autoridades competentes - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Barcarena (Semade), Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Abaetetuba (Semea), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Ibama, Instituto Evandro Chagas e Centro de Perícias Científicas Renato Chaves - atestaram que não houve rompimento dos depósitos".

Procurada pela reportagem para comentar o teor do relatório preliminar apresentado pelo Instituto Evandro Chagas, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente ainda não se manifestou. A Hydro AluNorte informou que precisa analisar o material antes de se pronunciar sobre o assunto.
Amanhã (23), deputados que integram uma comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para averiguar o risco de vazamentos em reservatórios existentes em Barcarena visitam a cidade. Integram o grupo, os deputados federais Edmilson Rodrigues (PSOL/PA), Arnaldo Jordy (PPS/PA), Delegado Éder Mauro (PSD/PA) e Elcione Barbalho (PMDB/PA).

Fonte: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/02/23/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-toxicos-de-mineradora-no-para.htm
Acesso: 26 fev. 2018.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

EMPRESA JAPONESA DESENVOLVE PILHA QUE NÃO DANIFICA O MEIO AMBIENTE

Pilha_bateria_energia (Foto: Pixabay)

A companhia japonesa Nippon Telegraph & Telephone (NTT) anunciou nesta segunda-feira que desenvolveu uma pilha ecológica que não danifica o meio ambiente quando é desprezada na terra, graças aos seus componentes de origem natural.

Ao contrário das pilhas convencionais, que incluem metais raros de difícil reciclagem e ligas de metais de zinco contaminante, a nova pilha é feita a partir de componentes que são encontrados nos adubos e elementos naturais para que possa "retornar à terra" de forma segura, explicou NTT em comunicado.

Para colocar a toda prova sua segurança, a empresa fez um experimento no qual enterrou fragmentos da pilha usada na terra de quatro vasos em proporções diferentes (desde 0,25 a um grama) e constatou que não afetaram negativamente o crescimento do vegetal, como acontece com os fragmentos de pilhas convencionais.

A companhia japonesa de telecomunicações seguirá pesquisando para aperfeiçoar a nova pilha, dado que atualmente tem uma capacidade limitada para sua comercialização.

A empresa realizará demonstrações da nova tecnologia na próxima quinta-feira, durante um fórum de pesquisa e desenvolvimento que organizará entre 22 e 23 de fevereiro.

A NTT procura ampliar o desenvolvimento de componentes ecológicos e disse que também planeja desenvolver no futuro sensores biodegradáveis que possam ser desprezados na terra sem danificar o meio ambiente.

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/02/empresa-japonesa-desenvolve-pilha-que-nao-danifica-o-meio-ambiente.html
Acesso: 21 fev. 2018.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

GERAÇÃO ANUAL DE LIXO ELETRÔNICO PASSA DE 40 MILHÕES DE TONELADAS


Montante descartado poderia gerar US$ 55 bilhões em materiais reaproveitáveis.
Montante descartado poderia gerar US$ 55 bilhões em materiais reaproveitáveis. (DarkMediaMotion/Thinkstock)

Em 2016, o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, 3,3 milhões de toneladas (8%) a mais do que em 2014. O montante equivale ao peso de quase 4.500 torres Eiffel.

A parte indigesta é que apenas 20%  ou 8,9 milhões de toneladas  do montante descartado foi reciclado. Se continuarmos nesse ritmo, a produção de “sucata pós-moderna” pode chegar a 52,2 milhões de toneladas em 2021.

Os dados são do Global E-waste Monitor 2017, relatório internacional elaborado pela Universidade das Nações Unidas (UNU) em parceria com União Internacional das Telecomunicações (UIT) e a ISWA – International Solid Waste Association (Associação Internacional de Resíduos Sólidos).

Computadores, celulares e outros gadgets descartados como lixo são ricos depósitos de ouro, prata, cobre, platina entre outros materiais de valor. O estudo da ONU estima que todo o lixo eletrônico gerado em 2016 poderia gerar US$ 55 bilhões em valor de materiais reaproveitáveis.

Ao invés de serem reciclados, esses materiais acabam em lixões e aterros. Resíduos eletrônicos representam um risco alto e crescente para o meio ambiente e a saúde humana. Uma das regiões que mais sofre com a contaminação de metais pesados é Agbogbloshie, em Gana, que é justamente uma das principais áreas de processamento de lixo eletrônico na África e está entre os lugares mais tóxicos do mundo, em um levantamento da organização ambiental Blacksmith Institute.

Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é complexo, caro e exige pessoal capacitado. Na maior parte do tempo, como mostra o estudo da ONU, não é isso o que ocorre. Através de processos de reciclagem informais, metais pesados, como o chumbo, são frequentemente liberados no meio ambiente.

Avanços ocorrem, mas a passos lento. O estudo chama atenção para o avanço nas legislações sobre resíduos eletrônicos. Atualmente, 67 países têm regulação nesse sentido, 44% a mais que em 2014. Mas leis sozinhas não dão conta do desafio, é preciso  fiscalizar a cadeia de produção e descarte, além de estimular a reciclagem adequada desses materiais. E, claro, também cabe a nós, consumidores, realizarmos compras mais conscientes e descarte adequado.

Fonte: https://exame.abril.com.br/mundo/geracao-anual-de-lixo-eletronico-passa-de-40-milhoes-de-toneladas/
Acesso: 14 fev. 2018.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

CIDADE DO CABO PODE SE TORNAR 1º GRANDE CENTRO URBANO SEM ÁGUA

Com quase 4 milhões de habitantes, cidade sul-africana se aproxima do "Dia Zero", quando nem mais uma gota de água potável verterá das torneiras

Já pensou em viver com apenas 25 litros de água por dia para suprir todas suas necessidades de higiene, alimentação e tarefas domésticas? Dias de secura que remetem a um futuro distópico estão se aproximando dos cerca de 3,7 milhões de habitantes da região metropolitana da Cidade do Cabo, segunda maior cidade da África do Sul.

Por comparação, um morador de São Paulo, por exemplo, utiliza em média 187,97 litros por dia, enquanto, para a ONU (Organização das Nações Unidas), 110 litros de água por dia são suficientes para atender as necessidade básicas de uma pessoa.

Na Cidade do Cabo, porém, esses números beiram o luxo. Diante da seca histórica que castiga a região, as autoridades locais recomendam que a população reduza o consumo atual, de 85 litros de água por dia, para 50 litros de água, de forma a poupar o recurso escasso.

Se a situação das reservas que abastecem a cidade caírem para 13,5%, as autoridades começarão a desligar o fornecimento em áreas residenciais. Com a torneira seca, a população só poderá recorrer a 200 pontos de coleta disponibilizados na cidade para receber apenas 25 litros de água por dia.

Mantido o ritmo atual de consumo, isso deve acontecer entre os dias 12 e 16 de Abril. Embora a data exata dependa do clima e dos padrões de consumo nos próximos meses, ela já tem nome: “Dia Zero”. Se o dia fatídico chegar, a Cidade do Cabo se tornará o primeiro grande centro urbano do mundo a ficar sem água.

Fila para pegar água

Os seis maiores reservatórios da cidade operavam com 25,8% de sua capacidade em 02 de fevereiro. A reserva de Theewaterskloof – o maior reservatório e fonte de aproximadamente metade da água da cidade – está na pior situação, com o nível da água em apenas 13% da capacidade.

Onde outrora a água era abundante, resta apenas um magro curso hídrico cercado de uma paisagem árida, como revela a imagem abaixo feita por satélites da agência espacial americana Nasa.

Segundo as autoridades locais, haverá seções separadas para acesso de pedestres e veículos aos pontos de coleta, bem como acesso para aqueles que coletam em nome de grupos vulneráveis. Mas não há garantias para agricultores e trabalhadores agrícolas. A indústria vitivinícola da África do Sul emprega cerca de 300 mil pessoas e forma a espinha dorsal da economia rural.

Desligar o sistema de distribuição significa não ter água saindo da torneira de casa para realizar tarefas simples e essenciais, como tomar banho, dar descarga no banheiro e cozinhar. Temendo um acirramento da tensão social em face da gravidade da crise, a África do Sul usará suas forças militares para proteger o abastecimento de água e evitar conflitos.

Placa alerta sobre restrições de água na Cidade do Cabo

A extrema escassez de água na cidade reflete três anos consecutivos de seca, associados a um boom populacional e a divisões políticas. Entre 1995 e 2018, a população da Cidade do Cabo aumentou cerca de 80%. Durante o mesmo período, a capacidade de armazenamento das barragens aumentou apenas 15%.

Em 2007, o Departamento Nacional de Água e Saneamento emitiu um aviso sobre o abastecimento de água da região dizendo que seriam necessária novas fontes de água até 2015.

Em resposta ao alerta, as autoridades locais iniciaram uma forte campanha de combate às perdas nas redes de distribuição, de gerenciamento de pressão, substituição de medidores de água, além de programas de conscientização social para reduzir o desperdício de água, a fim de tornar mais racional todo o fornecimento de água.

A estratégia foi eficaz e a cidade atingiu seu objetivo de redução de consumo três anos antes de 2015, garantindo um suprimento seguro para a população até pelo menos o ano de 2019, com base na precipitação e uso normal do recurso.

Os esforços pela eficiência no uso da água vistos na cidade, porém, não ecoaram no campo. Conforme observa o pesquisador David W. Olivier, do Instituto de Pesquisa de Mudanças Globais da Universidade de Witwatersrand, as cidades não têm o poder de fazer alocações de água para a agricultura. Isso é feito pelo governo nacional.

Na contramão das iniciativas de prevenção e economia adotadas na cidade, “o Departamento Nacional de Água e Saneamento não tomou medidas para reduzir o uso agrícola da água em 2015/2016”, escreve Olivier em análise publicada no site The Conversation.

Em última instância, o pesquisador aponta que a falta de articulação na gestão hídrica, alimentada segundo ele por divergências partidárias, “impulsionou a demanda por água além da capacidade do sistema de abastecimento” na região.

Multidão faz fila para buscar água em um dos 200 pontos de coleta na cidade

Com a sequência de secas severas nos últimos anos, que surpreendeu os meteorologistas, o sistema colapsou. Embora a cidade já tenha vivido momentos de seca em anos passados, geralmente o martírio terminava com a chegada da temporada de chuvas, o que não ocorreu agora, uma “surpresa” que sinaliza os riscos que as mudanças climáticas representam para as sociedades humanas.

“Este deve ser um alerta para autoridades da cidade e governos nacionais em todo o mundo”, diz o Financial Times . “Muitas das maiores cidades do mundo são extremamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas – secas mais longas, chuvas mais pesadas, aumento do nível do mar, incêndios florestais mais ferozes, piora da poluição do ar e ondas de calor”.

Na tentativa de conter a crise hídrica, a cidade corre contra o tempo para implementar projetos de reuso de água e novos pontos para retirada de água subterrânea. Dada a severidade da seca e incerteza em relação às chuvas nos próximos meses, o governo local também recorre a projetos mais temporários — e caros –, como a construção de três usinas de dessalinização da água do mar, vinculadas a um contrato de apenas 24 meses com a empresa responsável pela construção e operação.
Embora necessárias, intervenções tecnológicas não dão conta sozinhas de mitigar a crise, a população também precisa colaborar. Segundo a mídia local, com base nos dados oficiais, apenas cerca de 55% dos residentes da cidade estão realmente aderindo à redução do consumo proposto, de 50 litros por dia.

Nos lugares onde a economia é menor, a pressão da água está sendo diminuída para reduzir o desperdício e regular o consumo. Para muitos sul-africanos, porém, a torneira seca já é uma realidade, o que dá origem a longas filas nos postos de coleta, uma imagem que ameaça se tornar cada vez mais corriqueira em tempos de mudanças climáticas e descaso com o recurso mais precioso para a vida.

Nível do reservatório de água

Fonte: https://exame.abril.com.br/mundo/cidade-do-cabo-pode-se-tornar-1o-grande-centro-urbano-sem-agua/
Acesso: 04 fev. 2018.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

MONTADORAS ALEMÃS SÃO ACUSADAS DE USAR COBAIA HUMANA EM TESTES

Montadoras alemãs

Volkswagen, BMW e Daimler financiaram estudos para demonstrar que emissões eram seguras

Volkswagen, BMW e Daimler, as três marcas de automóveis mais emblemáticas da Alemanha, voltam ao ponto de mira por um novo e perigoso escândalo. As três gigantes do motor encomendaram e financiaram experimentos nos quais seres humanos e macacos foram levados a inalar gases emitidos por motores a diesel para determinar os efeitos no sistema respiratório e na circulação sanguínea, segundo revelaram vários jornais. O Governo alemão afirmou que as experiências não têm nenhuma justificativa ética nem científica e fez um chamado aos fabricantes para que reduzam as emissões em vez de tentar provar que não são prejudiciais.

Os testes com macacos, realizados em 2014 no laboratório Lovelace Biomedical, em Alburquerque, Estado do Novo México (EUA), foram denunciados na semana passada pelo jornal norte-americano The New York Times. Além disso, nesta segunda-feira dois órgãos da mídia alemã, o Stuttgarter Zeitung e o Süddeutsche Zeitung, revelaram que a Associação Europeia de Estudos sobre a Saúde e o Meio Ambiente no Transporte (EUGT), uma entidade fundada em 2007 pelas três empresas e a Bosch, fizeram um grupo de 25 pessoas inalarem dióxido de nitrogênio (NO2) em uma dependência da clínica universitária de Aachen.

A meta das experiências com ambos os seres vivos era demonstrar que as emissões de gases de seus carros equipados com motores a diesel não eram prejudiciais. Segundo a informação revelada pelos dois jornais alemães, um relatório de atividades para os anos 2012-2015 afirma que a associação fez “pessoas saudáveis” inalarem monóxido de carbono. “Não foram comprovadas reações à inalação de NO2 nem inflamações nas vias respiratórias”, diz o informe.

Thomas Kraus, o diretor do Instituto da clínica universitária de Aachen, confirmou a existência do estudo e explicou ao jornal Stuttgarter Zeitung que a pesquisa não estava relacionada com a manipulação de gases tóxicos que arruinaram a imagem da Volkswagen nos Estados Unidos. No entanto, Kraus admitiu que os resultados só tinham validade limitada, já que não podiam ser extrapolados para toda a população, e que o NO2 representava somente uma parte dos gases poluentes emitidos pelos motores a diesel.

Indagado sobre o escândalo, o grupo Daimler admitiu em um comunicado no domingo que condenava com energia o experimento realizado pela EUGT. “Estamos abalados pela amplitude e a implementação do estudo e condenamos os experimentos nos termos mais enérgicos”, afirma a Daimler, que diz que a empresa não teve nenhuma influência na realização do teste. “Iniciamos uma investigação exaustiva para determinar como pôde ser realizado esse estudo, que contradiz nossos valores e princípios éticos”, acrescentam.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Supervisão da Volkswagen, Hans Dieter Pötsch, se distanciou dos experimentos. “Em nome do conjunto do Conselho de Supervisão me distancio com total determinação deste tipo de prática”, anunciou. Além disso, afirmou que fará tudo o que estiver em suas mãos para que “esses eventos sejam investigados completamente” e “quem for responsável preste contas disso”.

Críticas do Governo alemão

O escândalo também não deixou indiferente a chanceler alemã, Angela Merkel, que, por intermédio de seu porta-voz, Steffan Seibert, exigiu um esclarecimento das empresas. “Estes testes com macacos e até com seres humanos não são, de um ponto de vista ético, de modo algum justificáveis”, anunciou nesta segunda-feira em Berlim. “O que os fabricantes de automóveis têm de fazer com as emissões é reduzi-las, e não pretender demonstrar que não são prejudiciais.”

Na sexta-feira, The New York Times revelou que o Instituto de pesquisa Respiratória Lovelace, de Albuquerque, havia utilizado um Beetle 2013 da Volkswagen para fazer dez macacos fechados em um quarto inalarem as emissões. Eles podiam olhar para uma tela de televisão, que lhes servia de distração. A meta da experiência era buscar demonstrar que os novos motores a diesel não eram poluentes. Mas o estudo foi uma fraude: o carro utilizado estava equipado com um software para reduzir as emissões.

"Os testes com os macacos e seres humanos são absurdos e repugnantes”, afirmou o primeiro-ministro do Estado federado da Baixa Saxônia, Stephan Weil, que também é membro do Conselho de Supervisão da Volkswagen. O político social-democrata disse que não estava informado dos experimentos e exigiu das principais autoridades da maior fabricante de automóveis do mundo uma condenação exemplar dos testes realizados por ordem da EUGT, órgão que deixou de existir em 2017.

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/29/internacional/1517237965_024764.html
Acesso: 30 jan. 2018.

domingo, 28 de janeiro de 2018

SANDUÍCHES SÃO TÃO PREJUDICIAIS AO MEIO AMBIENTE QUANTO CARROS(?)

Hambúrguer de carne de angus certificada

O consumo anual de sanduíches no Reino Unido tem o mesmo impacto no meio ambiente que o uso de mais de oito milhões de carros por ano, afirmam pesquisadores da Universidade de Manchester em um estudo publicado dia 25 de janeiro de 2018.

De acordo com a Associação Britânica do Sanduíche (BSA), 11,5 bilhões de sanduíches são consumidos a cada ano no Reino Unido, metade dos quais são preparados em casa e a outra metade comprada comercialmente.

Este consumo anual “gera em média 9,5 milhões de toneladas de CO2, o equivalente ao uso anual de 8,6 milhões de carros”, compara a professora Adisa Azapagic, citada pela universidade.

Os pesquisadores estudaram a pegada de carbono de 40 diferentes tipos de sanduíches. Os piores para o meio ambiente? Os com carne de porco (bacon, presunto ou salsicha) e os com queijo ou camarão.
A variedade que mais consome carbono é o especial para café da manhã com ovos, bacon e salsichas comprado no mercado. Os pesquisadores calcularam que a produção de um sanduíche deste tipo gera 1.441 gramas de dióxido de carbono, equivalente às emissões de CO2 produzidas por um carro que viaja a 12 milhas (19 quilômetros).

O mais limpo para o planeta é o de presunto e queijo preparado em casa.

A produção, o processamento e armazenamento dos sanduíches, sua embalagem e transporte contribuem para o seu impacto no meio ambiente.

Os pesquisadores estimam que sua pegada de carbono pode ser reduzida em 50%, alterando receitas, embalagens e por meio da reciclagem de resíduos.

A BSA também estima que o prolongamento da vida útil dos sanduíches flexibilizando datas de validadeeconomizaria pelo menos 2.000 toneladas de resíduos por ano.

Fonte: https://exame.abril.com.br/ciencia/sanduiches-seriam-tao-prejudiciais-ao-meio-ambiente-quanto-carros/
Acesso em: 28 jan. 2018.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

BRASIL DIZ ADEUS AO MAIOR LIXÃO DA AMÉRICA LATINA, EM BRASÍLIA



Por Vanessa Barbosa

São Paulo – Após mais de dez anos de contenda e planejamento, o Brasil vai finalmente encerrar as atividades do lixão da Estrutural, em Brasília, o maior em atividade na América Latina e o segundo maior do mundo, atrás apenas do de Jacarta, na Indonésia. O fechamento está previsto para ocorrer neste sábado (20).

Diariamente, mais de três mil toneladas de resíduos do Distrito Federal tinham como destinação final o lixão, a pior forma possível de descarte. Seis décadas desde que começou a ser usado, Estrutural acumula atualmente 40 milhões de toneladas de detritos. É tanta sujeira emaranhada num mesmo espaço que o ponto mais alto da montanha de entulho chega a 60 metros de altura.

No começo de 2017, Brasília inaugurou o aterro sanitário de Samambaia, projetado para comportar 8,13 milhões de toneladas de rejeitos, com uma vida útil de 13 anos. Para garantir que só vá rejeito para o aterro — ou seja, resíduo sem possibilidade de reutilização — o governo do distrito federal  planejou a abertura de cinco centros de triagem de material.

Esses centros são essenciais para a separação de recicláveis e, mais ainda, para a reinserção no mercado de quase 2 mil catadores que tiravam do lixão da Estrutural o seu sustento.

Desafio nacional

O encerramento do lixão, localizado a 15 quilômetros da Praça dos Três Poderes, marca o começo de uma nova história para a gestão de resíduos na região e no Brasil, mas sem perder de vista a imensa cicatriz deixada.

“A remediação do impacto ambiental pode levar de 30 a 50 anos. Serão necessárias várias etapas de contenção de vazamentos, emissões e tratamento da área, é como um quebra-cabeça de custo elevado”, diz a EXAME.com Gabriela Otero, coordenadora do departamento técnico da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A entidade fechou um acordo de cooperação para acompanhar o fechamento do lixão até sua conclusão definitiva. “O fechamento do lixão da estrutural e a criação de uma nova logística de descarte pode mobilizar outras cidades a fazer o mesmo”, destaca a especialista.

Segundo levantamento da entidade, 1559 municípios brasileiros (quase 30% do total) recorreram aos lixões em 2016, contra 1552 em 2015, anos com dados mais recentes disponíveis. No total, em todo o território nacional, existem 2976 lixões em operação.

Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída com 20 anos de atraso em 2010, o país deveria extinguir todos os lixões até 2014. O prazo foi adiado, e as capitais e municípios de região metropolitana têm até 31 de julho de 2018 para acabar com os lixões, e  cidades pequenas, até 2021. Claramente, a extinção dos lixões está longe de acontecer. 

Para a representante da Abrelpe, embora a consciência sobre o problema venha crescendo, faltam mudanças concretas.

O estímulo, segundo ela, pode vir do governo, por meio, por exemplo do estabelecimento de um sistema de aproveitamento energético de resíduo, pode vir pelo próprio setor industrial, que precisa se mexer para atender à logística reversa prevista na PNRS, e também da revisão de hábitos e atitudes por parte da população.

“O que não dá é ficar inércia, a inércia custa bilhões. Precisamos nos movimentar e rever nossa relação com o lixo”, sublinha.

Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-diz-adeus-ao-maior-lixao-da-america-latina-em-brasilia/
Acesso: 24 jan. 2018.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

VOCÊ SABIA QUE O BRASIL EXPORTA TRILHÕES DE LITROS DE "ÁGUA VIRTUAL"?



      Em 2015, a falta de água era uma das maiores preocupações do Brasil, atingindo gravemente a região Sudeste. Os reservatórios do Sistema Cantareira, em São Paulo, atingiram o chamado "volume morto", e a foz do rio Doce, no Espírito Santo, ficou praticamente seca --isso antes do rompimento das barragens em Mariana (MG). As chuvas de 2016 atenuaram um pouco o problema, mas fatores que colocam em risco a segurança hídrica no país continuam existindo.

      Algo que preocupa pesquisadores é o impacto do consumo e venda de centenas de trilhões de água doce para outros países. Ela não vai embora em garrafas ou galões, e sim incorporada em produtos que circulam no mercado internacional, como as commodities agrícolas. É a chamada "água virtual", cujo Brasil é um dos maiores exportadores globais.

       Segundo a UNESCO, a agropecuária faz com que o país envie indiretamente para o exterior cerca de 112 trilhões de litros de água doce por ano – o equivalente a 45 milhões de piscinas olímpicas.

       O conceito, criado pelo britânico Anthony Allan em 1993, refere-se à quantidade de água utilizada para produzir algo em um determinado local, porém destinado para ser consumido em outro lugar. Estabelece-se, assim, um fluxo virtual de água entre países. A agropecuária é a atividade que mais consome água no Brasil e no mundo, respondendo por cerca de 70% do total retirado dos mananciais, segundo dados da ONU.

       Cada grão de soja que nasce e vai para exportação consome uma grande quantidade de água. "A água virtual é a água utilizada em toda a cadeia de produção", explica Maria Victoria Ramos Ballester, professora do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP, em Piracicaba.

      Segundo Ballester, para se produzir e exportar um litro de etanol a partir da cana, é consumido, em média, 1.500 litros de água.

       "Entra na conta a água de chuva que planta utiliza, a água usada no proceso de refino, a que está no combustível do caminhão que transporta o produto final, etc.", afirma a pesquisadora. "Multiplicando isso pela quantidade que é exportada, conseguimos saber a quantidade virtual de água exportada e importada por cada país", completa.

Trilhões de litros de água, de graça

      A exportação de commodities agrícolas possui destaque na economia brasileira. O setor agropecuário compõe cerca de um quarto do PIB do país, participando de quase metade do total exportado pelo Brasil.

       Os números colocam o Brasil entre os cinco maiores exportadores de água virtual do mundo, entre países como Índia, Argentina, EUA e Austrália. A água que perdemos com a exportação de soja, milho, açúcar e carne não é cobrada de forma direta, sendo usufruída "gratuitamente" pelos países consumidores. Nos últimos anos, o maior consumidor do agronegócio brasileiro foi a China.

      A China importa água de outros países como o Brasil e isso é uma política pública para lidar com a escassez hídrica
 
      Maria Victoria Ramos Ballester, professora da USP

       "É só um exemplo de país que faz isso. Eles possuem problemas como o de contaminação de recursos hídricos, apesar de não haver muitos dados divulgados", completa.
Segundo a professora, que estuda como a exportação de água virtual afeta o balanço hídrico na região do Alto Xingu, no Mato Grosso, os países importadores encontram nesse fluxo indireto de água uma solução para as pressões sobre suas fontes hídricas. Enquanto isso, quem vive nas áreas de produção ficam mais dependentes de irrigação.

Problemas e soluções

      O fluxo internacional de água poderia ser visto como uma forma de balancear a distribuição desigual de água no planeta. Assim, uma região com escassez de água teria como, através do comércio, reduzir a pressão sob suas fontes hídricas, adquirindo produtos de locais com abundância de água. 
 
      O impacto socioambiental de atividades que promovem a exportação de água virtual poderia ser minimizado por políticas de gestão de recursos hídricos que incorporassem a cobrança pelo uso de água
bruta.  
 
      Para o pesquisador Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente, na Holanda, "aumentar a eficiência do uso da água, ou seja, produzir os mesmos alimentos com menos água", é um dos caminhos para evitar crises hídricas em países produtores. "Isso pode ser feito com melhor tecnologia de irrigação e boas práti
 
Fonte: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2016/03/22/brasil-exporta-trilhoes-de-litros-de-agua-virtual-de-graca-entenda.htm
Acesso: 20 jan. 2018.

sábado, 20 de janeiro de 2018

BRASIL É O 5º MAIOR EXPORTADOR DE 'ÁGUA VIRTUAL', INCORPORADA A ALIMENTOS



      O Brasil é exportador líquido de água. Ela não sai do país em granéis líquidos ou contêineres, mas está contida nos grãos, carnes e até nos produtos industrializados que o país vende ao exterior.

      O volume de água potável utilizado para produzir um alimento ou mercadoria é conhecido como "pegada da água" ou "pegada hídrica".

       Segundo o criador desse conceito, o pesquisador Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente, na Holanda, o Brasil é o quinto país com maior exportação líquida de "água virtual", ou seja, incorporada no processo produtivo.

       Apesar da atual crise hídrica, Hoekstra diz que o país não deve mudar o seu perfil comercial, mas tornar o uso da água mais eficiente.

       Folha - O que é o conceito da pegada da água?
     Arjen Hoekstra - A pegada da água mede a água potável usada para produzir determinado produto. É uma métrica que considera tanto o consumo como a poluição da água utilizada em toda a cadeia de produção. Calculamos o consumo pelo volume de água que evapora ou é incorporado a determinado produto.
 
      Os exportadores de commodities tendem a ser exportadores líquidos de água?
     Quando a água é usada para a produção de produtos de exportação, podemos dizer que o país exporta essa água. Falamos de "exportação de água virtual", porque é água virtualmente incorporada nos produtos de exportação.
 
      Como é feito esse cálculo?
     Nós quantificamos os fluxos de "água virtual" entre os países ao multiplicar o volume de vendas de determinada mercadoria pela pegada de água dela, no local em que foi produzida.
Calcula-se o fluxo de água virtual do Brasil para a Europa relativo às exportações de soja, por exemplo, com a multiplicação das toneladas exportadas pelo volume de água consumido e poluído no Brasil a cada tonelada de soja produzida no país.
 
      O Brasil é um exportador líquido de água?
     O Brasil é um exportador líquido de água virtual. Isso significa que uma grande quantidade de recursos hídricos nacionais são consumidos e poluídos para produzir os itens de exportação. Por outro lado, também é utilizada água em outras partes do mundo para fazer os produtos importados pelo Brasil.
      Mas a importação de água virtual é muito pequena em comparação com as exportações. O Brasil ocupa o número 5 na lista de países com maior exportação líquida de água virtual, depois da Índia, Argentina, EUA e Austrália.
 
      Qual é a importância de se olhar o consumo e a demanda globais de água ao formular políticas de gestão hídrica?
        Muitos países não têm recursos de água doce o suficiente para produzir seu próprio alimento. Os países do Oriente Médio e Norte da África, por exemplo, importam uma grande quantidade de alimentos e, assim, exteriorizam a sua pegada de água para outras partes do mundo.
       Países como China e Índia também estão exteriorizando rapidamente sua demanda por água. A Europa é um caso especial: embora o continente como um todo não seja muito seco, cerca de 40% da pegada de água dos consumidores europeus está fora da Europa. Isso ocorre porque as importações são normalmente mais baratas do que produzir na Europa.
 
       A exportação de água virtual é um problema para o Brasil?
      O Brasil é um dos principais fornecedores mundiais de commodities com uso intensivo de água. Isso cria boas oportunidades de exportação para o país, mas também leva a uma pressão crescente sobre os recursos hídricos para produzir as commodities para a exportação.
 
       Isso é sustentável?
      É o quadro total de consumo de água e da poluição que não é sustentável. O uso da água para fazer produtos para exportação é parte disso.
 
       A redução das exportações pode ser vista como uma solução para a crise da água?
      A primeira coisa a fazer é aumentar a eficiência do uso da água, ou seja, produzir os mesmos alimentos com menos água. Isso pode ser feito com melhor tecnologia de irrigação e boas práticas. A poluição pode ser reduzida com a prática da agricultura orgânica [sem agrotóxicos].
 
       Como esse conceito pode ajudar a gerenciar a crise?
     As autoridades devem entender que, em momentos como este, a disponibilidade de água é limitada. Os usuários não devem receber mais água do que é razoavelmente necessário. Com esse propósito, as autoridades devem desenvolver "benchmarks" para a pegada da água de cada tipo de uso, o que deve indicar o uso máximo de água em cada processo produtivo.
      As autoridades deveriam indicar um "teto pegada de água" por bacia. Isso significa que o governo não deveria emitir licenças de captação de água além desse limite. A pergunta é: para onde a água deveria ir, se ela é limitada? 
 
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1605650-brasil-e-o-5-maior-exportador-de-agua-virtual-incorporada-a-alimentos.shtml
Acesso: 20 jan. 2018.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ANO TEVE MAIS RETROCESSOS QUE AVANÇOS NO DIREITO AMBIENTAL






      O objetivo deste artigo é traçar uma análise panorâmica da trajetória do Direito Ambiental brasileiro no ano de 2017, destacando os julgados e acontecimentos mais importantes. É evidente que alguns fatos relevantes poderão não ser incluídos tanto por conta do juízo de preferência dos autores quanto para evitar que o texto fique extenso demais. Não se pode desconsiderar que a nossa legislação ambiental é, de maneira geral, bastante avançada, com forte embasamento constitucional e um arcabouço normativo infraconstitucional sólido. No entanto, é somente com a observação da jurisprudência e dos eventos políticos-jurídicos que esse avanço pode ser efetivamente medido. Em vista disso, o presente trabalho procurará examinar julgados, ocorrências jurídico-políticas e desdobramentos dos textos legais.

      Em maio de 2017 o Senado aprovou a MPV 756/2016 reduzindo a área do Parque Nacional do Rio Novo e da Floresta Nacional de Jamanxim para compor a recém criada Área de Proteção Ambiental do Jamanxin, de maneira a reduzir o nível de proteção ambiental e a viabilizar a permanência dos posseiros ali presentes, verdadeiro intuito da norma. Essa discussão passa pela ausência dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e pelo desrespeito ao inciso III do § 1º do artigo 225 da Carta Magna, segundo o qual somente lei pode suprimir espaços territoriais ecologicamente protegidos[1]. Felizmente, em junho de 2017 o presidente Michel Temer vetou a MPV (editado por ele mesmo) após oitiva do Ministério do Meio Ambiente, que apontou a fragilização da Amazônia Brasileira e do Estado de Santa Catarina (vide Mensagem 198, de 19 de junho de 2017).

      Ainda em relação às UCs, em dezembro de 2017 a Presidência da República editou a MPV 809 criando o fundo privado de recursos da compensação ambiental prevista no artigo 36 da Lei 9.985/2000. A iniciativa é interessante porque ajuda a combater o desvio de finalidade na aplicação dos recursos em despesas estranhas às UCs e porque põe fim ao entendimento do TCU que proibia o pagamento pecuniário da referida compensação, o que limitava o setor produtivo. De qualquer forma, a despeito da relevância, é nítida a falta de urgência na matéria apta a justificar o atropelamento do processo legislativo ordinário (leia aqui).

      A legislação minerária também sofreu modificações por meio das MPVs 789, 790 e 791, todas de julho de 2017. Apenas a segunda perdeu a eficácia e não foi convertida em lei. Embora tratem especificamente da regulação minerária, as aludidas MPVs interferem na regulação ambiental, tendo em vista que a mineração é atividade pautada na pesquisa e extração de recursos naturais não renováveis. As MPVs não ajudaram a promover a interação entre a regulação ambiental e a minerária, o que certamente contribuiria para a efetividade dos dois instrumentos de controle da mineração (leia aqui).

      Outro assunto que mereceu bastante polêmica foi a extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), nos estados do Pará e do Amapá, criada pelo Decreto 89.404/1984. Tal reserva constitui zoneamento minerário em que o chefe do Executivo federal prioriza, num espaço territorial específico, a pesquisa e a extração de cobre (e substâncias associadas) cujos trabalhos seriam desenvolvidos pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) – Empresa Pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Em 22 de agosto, o presidente Michel Temer editou o Decreto 9.142/2017 extinguindo a Renca. O presidente foi duramente criticado por ter supostamente autorizado a mineração em espaço territorial protegido para fins ambientais, havendo decisão liminar em ação popular suspendendo os efeitos do Decreto sob o fundamento de que área protegida só poderia ser extinta por meio de lei. Em que pese a louvável intenção de proteger o meio ambiente, a verdade é que a Renca constitui mero zoneamento minerário no qual a atividade minerária é destacada, com a única diferença de enfatizar determinada substância mineral (no caso, o cobre); a Renca jamais pode ser caracterizada como UC, pois não há o intuito de proteger recursos ambientais com características relevantes. A extinção não exige lei.

      Diante desse cenário, o presidente editou, no dia 28 de agosto, o Decreto 9.147/2017, revogando o Decreto 9.142/2017, mas manteve a extinção da Renca. Apenas deixou claro o óbvio: a extinção da Renca não implica no fim das Unidades de Conservação e das terras indígenas demarcadas na área anteriormente zoneada. As críticas continuaram e o presidente recuou mais uma vez expedindo em 25 de setembro o Decreto 9.159/2017, revogando o Decreto 9.147/2017 e revigorando o Decreto 89.404/1984, que criou a Renca. É de se destacar que a existência da Reserva protegeu o meio ambiente pela via reflexa, devido à inércia da CPRM em desenvolver as atividades de pesquisa e lavra. Sua extinção certamente iria fomentar a mineração no local, política que talvez não seja adequada à Floresta Amazônica brasileira. Registre-se que a desnecessidade de processo legislativo para extinguir a Renca não retira a importância da realização de debates prévios, pois a extinção do patrimônio nacional não pode ocorrer num singelo “toque de mágica” do chefe do Poder Executivo federal. Com efeito, faltou a realização de debates prévios, audiências públicas e outros instrumentos garantidores da participação e do controle social.

      Em novembro o STF julgou inconstitucional o artigo 2º da Lei Federal 9.055/95, que permitia a extração, industrialização, comercialização e a distribuição do uso do amianto crisotila no país. O assunto já julgado incidentalmente inconstitucional na ADI 3.937, teve a sua inconstitucionalidade reafirmada no âmbito das ADIs 3.406 e 3.470 agora com efeito erga omnes e caráter vinculante (leia aqui). Já no final de dezembro a ministra Rosa Weber, relatora do caso, concedeu liminar naquela ADI suspendendo os efeitos erga omnes, de forma que a proibição ficou restrita às unidades federativas onde há lei nesse sentido (leia aqui).

      Ainda sobre a atividade minerária, em novembro de 2017 a tragédia de Mariana (rompimento de barragens da Empresa Samarco e contaminação do Rio Doce e do oceano atlântico) completou dois anos. Ainda não houve o desfecho do caso e em dezembro de 2017 a Câmara de Atividades Minerárias, que compõe o Conselho Estadual de Política Ambiental (órgão subordinado à Secretaria de Meio ambiente de Minas Gerais), aprovou as licenças ambientais prévia e de instalação. Além disso, foi ajuizada a curiosa Ação Civil Pública em nome do Rio Doce (como se fosse ente com personalidade judiciária), com o patrocínio da Associação Pachama. Tal demanda mereceu diversas críticas de especialistas pela falta de legitimidade ativa do Rio Doce e pela fragilidade da petição (leia aqui).

      Também merece destaque o Decreto 9.179, que alterou o Decreto 6.514/2008 (que dispõe sobre as sanções administrativas ambientais e o seu respectivo processo) regulamentando a possibilidade de conversão de multas em prestação de serviços ambientais nos termos do § 4º do artigo 72 da Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes e das Infrações Administrativas Ambientais). Os descontos são de 35% e 60% e os valores deverão ser aplicados em projetos de recuperação de área degradada, educação ambiental ou regularização fundiária de UCs, por exemplo. Estima-se que o total de multas atingidas pelo Decreto totalizam quantia superior a quatro bilhões de reais (leia aqui). A medida não deixa de ser positiva pelas seguintes razões: i) tende a abreviar a duração do processos administrativos ambientais, ii) tende a aumentar a arrecadação e iii) gerará benefícios diretos ao meio ambiente. Por fim, cumpre esclarecer que esse benefício não isenta o infrator da obrigação de reparar o dano causado (artigo 143, § 1º).

      Em 14 de setembro de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início ao julgamento de cinco demandas de controle concentrado relativas ao Código Florestal (Lei 12.651/2012): Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADC) 42 e Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 4901, 4902, 4903 e 4937. Na sessão de 8 de novembro de 2017, o Relator – mininistro Luiz Fux – proferiu voto no sentido da inconstitucionalidade de alguns dispositivos, dentre eles o Programa de Regularização Ambiental (PRA), que funcionaria como verdadeira anistia dos produtores rurais que cometeram infrações anteriores à data de 22 de julho de 2008[2]. O julgamento foi suspenso após o pedido de vista da presidente, ministra Cármen Lúcia.

      Outra questão digna de comentário relacionada ao Código Florestal, é a falta de consolidação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que não tem conseguido cumprir o seu papel de viabilizar a regularização ambiental de propriedades e posses rurais. Prova disso é que em 29 de dezembro de 2017 foi assinado o Decreto 9.257 que mais uma vez prorrogou até 31 de maio de 2018 o prazo para requerer a inscrição no CAR.

      A Lei Complementar 140/2011, que regulamentou o parágrafo único do artigo 23 da Lei Fundamental na tentativa de pôr fim aos conflitos de competência administrativa entre os três níveis federativos, continua não logrando o êxito desejado. A prevalência da autuação do órgão licenciador no âmbito administrativo (artigo 17), por exemplo, não tem sido observada pelo Poder Judiciário, que de maneira geral tem julgado com o mesmo entendimento de antes. A participação dos órgãos intervenientes no licenciamento ambiental precisa ser devidamente disciplinada, notadamente no que diz respeito à forma e ao momento (artigo 13). Por outro lado, também a ADI 4757 proposta pela ASIBAMA em 2012, que tem por objetivo declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar 140/2011, também não avançou sob a relatoria da ministra Rosa Weber.

      Em relação aos resíduos sólidos, foi editado o Decreto 9.177 que regulamentou a logística reversa obrigatória, a que estão obrigados fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos geradores de resíduos. Mais efetivo mecanismo de gestão de resíduos perigosos no Brasil, o objetivo é fazer com que os resíduos de agrotóxicos, baterias, lâmpadas, pilhas etc retornem à cadeia produtiva (leia aqui).

      No tocante aos dispositivos constitucionais, chamou atenção a Emenda Constitucional (EC) 96/2017, que incluiu no artigo 225 o § 7º dispondo que práticas desportivas utilizadoras animais, como manifestação cultural, não se consideram cruéis. Tal norma é oriunda da famigerada PEC da vaquejada, cuja apresentação ocorreu após a declaração de inconstitucionalidade, pelo STF na ADI 4.983, de Lei do Ceará que regulamentava a vaquejada, sob o argumento da existência de crueldade animal. O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal ajuizou a ADI 5.728 em face da referida EC 96/2017 sob o fundamento de que o artigo 60, § 4º, IV, da Constituição Federal proíbe a tramitação de emenda tendente a abolir direitos fundamentais, dentre os quais está a proteção animal[3].

      Ainda sobre normas constitucionais, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a PEC 97/2015 (conhecida como PEC dos ventos), que acrescenta ao rol de bens da União o potencial de energia eólica, permitindo a cobrança de royalties sobre o resultado da exploração dessa energia, cujos recursos seriam compartilhados entre os entes federados. É evidente que a geração de “energia limpa” deveria ser incentivada pelo Poder Público ao invés de sofrer encargos financeiros, consoante determina o inciso VI do artigo 170 da Lei Fundamental[4].

      Mas o retrocesso bancado pelo lobby do petróleo não se limitou a isso, pois em agosto o Poder Executivo editou a MPV 795/2017, que em dezembro foi transformada na Lei 13.586, concedendo tratamento tributário diferenciado às atividades de exploração, de desenvolvimento e de produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos. Cuida-se de uma bilionária e escandalosa isenção fiscal que não apenas prejudicará a indústria nacional, mas afronta toda a política climática e de energias renováveis, pois vai na contramão do Acordo de Paris.

      Também se procurou aprovar o Projeto de Lei 3.729/04, iniciado na Câmara dos Deputados, dispondo sobre a Lei Geral de Licenciamento Ambiental, que, entre outras coisas, traria as seguintes novidades: aumento do prazo de validade das licenças, dispensa do EIA/RIMA, maior autonomia dos estados e municípios para simplificar procedimentos, redução dos prazos de análise e supressão de algumas etapas de licenciamento. No entanto, a guerra travada entre a versão do Ministro Sarney Filho e a da bancada ruralista, que almejava um grau maior de flexibilização, resultou na paralisação do projeto.

      Em dezembro foi publicada a Lei 13.576, que instituiu a Política Nacional de Biocombustíveis. Dentre os objetivos (artigo 1º, I a IV), estão o atendimento aos compromissos firmados pelo Brasil no Acordo de Paris, a contribuição com a eficiência energética e redução da emissão de gases de efeito estufa, a expansão na produção/uso de biocombustíveis e a participação competitiva dos biocombustíveis no mercado nacional. A medida é interessante porque procura contribuir para a segurança energética e para a redução da emissão de gases estufa, além de criar uma política de Estado integrada para o tema. É que antes o álcool e o biodiesel seguiam regimes jurídicos distintos, ficando os demais tipos de biocombustível relegados a um segundo plano. Faz-se necessário agora que os instrumentos da nova política, como os Créditos de Descarbonização e a Certificação de Biocombustíveis, sejam aplicados da forma mais efetiva possível.

      Verificou-se, portanto, que o ano de 2017 foi de avanços e de retrocessos para o Direito Ambiental, ainda que mais de retrocessos do que de avanços. Também foi destaque o protagonismo do Poder Executivo federal na edição de MPVs sem os requisitos da urgência e da relevância, e na edição de normas sem debate prévio com a sociedade civil e os setores interessados.

1 A jurisprudência do STF e do STJ entende pela impossibilidade de desfazer no todo ou em parte espaços territoriais ecologicamente protegidos a não ser por lei. Vide os acórdãos do RE 519.778 da 1ª Turma do STF (Rel. Min. Roberto Barroso) e do RESp 1071741 da 2ª Turma do STJ (Rel. Min. Herman Benjamin).
2 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=361342>. Acesso 05 jan. 2018.
3 Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=348571>. Acesso 05 jan. 2018.
4 “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação” (...).

Talden Farias é advogado e professor da UFPB, mestre em Ciências Jurídicas (UFPB), doutor em Recursos Naturais (UFCG) e em Direito da Cidade (Uerj). Autor de publicações nas áreas de Direito Ambiental e Minerário.

Pedro Ataíde é advogado, mestre em Ciências Jurídicas (UFPB) e autor de publicações nas áreas de Direito Ambiental e Minerário.

Acesso: 16 jan. 2018.