O Paraná aparece como o estado que mais destruiu a vegetação de mata atlântica em 30 anos no Brasil,
segundo levantamento da ONG e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), com base em imagens de satélite. Foram 456.514
hectares desmatado, área que equivale aproximadamente a 11 cidades de
Curitiba. Seguido de Minas Gerais, com 383.637 hectares, os dois estados
destruíram em três décadas o equivalente a 5,5 cidades de São Paulo.
No pedido encaminhado ao governador Beto Richa (PSDB), a entidade
também solicita que seja realizada a revisão das demais licenças
concedidas pelo governo estadual nos últimos 24 meses.
A moratória visa suspender por tempo determinado as licenças que
provoquem desmatamento da mata nativa. “Com a moratória, o poder público
não poderá emitir licença que resulte em desmatamento. Espero que o
governo acate o pedido”, afirma a diretora-executiva da SOS mata
atlântica, Marcia Hirota.
Procurado, o chefe da Casa Civil do governo paranaense, Valdir
Rossoni, afirma que ainda não teve acesso ao requerimento e que somente
irá se manifestar depois de analisar o documento.
Desmatamento da Mata Atlântica
Nestas três décadas, a mata atlântica brasileira teve 1,887 milhões
de hectares devastados, o que significa 12 vezes o tamanho da cidade de
São Paulo ou quase o estado de Sergipe.
Além do Paraná e Minas, lideram o ranking de desmatamento Santa
Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A última análise de imagens
de satélite, entre 2014 e 2015, mostrou que o ritmo de desmate não
diminuiu – Minas, Bahia, Piauí e Paraná lideram o ranking.
O mapeamento não inclui, nos anos iniciais, a série histórica de sete
estados – Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do
Norte e Sergipe – pela falta de imagens claras de satélite nos anos 90 e
2000.
Segundo dados de 2014, o Piauí é o Estado que possui maior
porcentagem de bioma remanescente (35,4%). Pelos valores totais, MG tem a
maior área relacionada ao bioma, 3.228.380 hectares, equivalente a
11,7% de vegetação remanescente. O PR aparece em quarto com 2.543.913
hectares, 13% de vegetação remanescente.
Araucárias
Segundo a SOS mata atlântica, o Paraná é um dos 17 estados
signatários da carta “Nova História para a Mata Atlântica”, no qual as
secretarias estaduais de Meio Ambiente assumiram, em maio de 2015, o
compromisso de investir em restauração florestal e alcançar o
desmatamento ilegal zero até 2018.
Ainda segundo a entidade, foram perdidos em três décadas 336.310
hectares de florestas com araucárias – espécie ameaçada de extinção.
Restam 3% delas no Estado.
A falta de fiscalização de órgãos estaduais e federais, o avanço das
madeireiras no Paraná, do setor siderúrgico em Minas e das áreas
agropastoris foram os principais responsáveis para que ambos os estados
figurassem entre os campeões de desmatamento.
Segundo Marcia Hirota, no Paraná, os picos de desmate ocorreram em
virtude das madeireiras, especialmente na região centro-sul, e em Minas
pelas indústrias siderúrgicas, principalmente no noroeste.
“Lá [Minas] as florestas foram transformadas em carvão para abastecer
as siderúrgicas”, afirma. A entidade começou a monitorar o desmatamento
do bioma em 1985.
Desde o descobrimento do Brasil, a mata atlântica é alvo de cada
ciclo econômico, lembra Hirota. A mata atlântica abrangia por volta do
ano de 1500 uma área equivalente a 131.546.000 hectares.
“Hoje a perda é menor, mas só temos 12,5% do que existia originalmente.
Fiscalização
Segundo o promotor Alexandre Gaio, de área de Meio Ambiente do
Paraná, a ação de madeireiras é histórica e justifica o estado ser o
principal devastador da mata atlântica em 30 décadas. Muitos cortes de
árvores nativas ocorrem legalmente, diz Gaio, com a liberação do órgão
estadual ambiental.
“Faz quase 20 anos que não há concurso para o órgão. Isso dificulta a
fiscalização. Mas há cortes que são ilegais, no nosso ponto de vista,
não só pela clandestinidade, mas também por ocorrerem com liberação de
corte.”
A situação é semelhante à de Minas, segundo o promotor do setor Meio Ambiente do Estado, Carlos Eduardo Ferreira Pinto.
“Há ausência de fiscalização e cortes sem autorização, mas também
licenciamentos de cortes com grave processo de ilegalidade no trâmite. A
complexidade é maior”, diz.
Outro lado
O diretor de biodiversidade e áreas protegidas do Instituto Ambiental
do Paraná, Guilherme Vasconcellos, admite faltar funcionários. “Estamos
montando um sistema de inteligência para poder otimizar e traçar
ações”. Segundo ele, toda liberação de empreendimentos que irão afetar o
meio ambiente seguem as normas legais.
Segundo o Ibama do Paraná, no ano passado o órgão emitiu R$ 4,4
milhões em multas por crimes ambientais e embargou 454 hectares por
devastação de mata nativa.
Via assessoria de imprensa, a Secretaria de Meio Ambiente de Minas
afirma que atua para a recuperar áreas degradadas e na fiscalização
ostensiva para coibir o desmate ilegal.
Segundo a pasta, no ano passado foram realizadas sete operações para
coibir o desmate da mata atlântica resultando em aproximados R$ 32,6
milhões em autuações. “Em muitos casos não é possível identificar o
verdadeiro autor, sendo responsabilizados os somente os ‘laranjas’“,
diz. Em 2014, cerca de 2,5 mil hectares de área nativa foram
recuperados.
O Ministério do Meio Ambiente informa que a fiscalização para
combater o desmate deve ser realizado pelos governos federal, estadual e
municipal, e cita que algumas medidas tomadas são a criação de unidades
de conservação e fomento a atividades produtivas sustentáveis. “A maior
parte dos desmatamentos ocorre em pequenas áreas”, diz, “o que
dificulta seu monitoramento e aumentam, consequentemente, o custo da
fiscalização, que é limitado”.
O Sindicato das Indústrias de Madeira do Estado do Paraná afirmou que
não tem empresas afiliadas que desmatem a mata atlântica, e que
repudia a exploração ilegal.
O sindicato das indústrias de ferro de Minas não se pronunciou.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/lider-em-desmatamento-parana-e-cobrado-a-frear-destruicao-da-mata-atlantica-97l6pf2qjhd7vja3x0kszea1i
Acesso: 14 jan. 2018.
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