OITO
CIDADES MOSTRAM AO BRASIL QUE É POSSÍVEL DESPOLUIR OS RIOS URBANOS
O crescimento
desordenado das cidades, somado ao descaso do poder público e à falta de
consciência da população, fazem com que boa parte dos rios urbanos do Brasil
mais pareçam a extensão das lixeiras. A falta de tratamento de esgoto e o
descarte de poluentes industriais são os grandes vilões para esse quadro.
Atualmente, os 500
maiores rios do planeta enfrentam problemas com a poluição, segundo dados da
Comissão Mundial de Águas. Contudo, diversas cidades conseguiram
transformar seus rios mortos em belos retratos de cartão-postal, como Paris e
Londres, integrando-os à sua vida econômica e social. A Exame listou alguns
exemplos que podem inspirar as autoridades brasileiras para que alcancemos os
mesmos resultados.
Sena pode estar 100% despoluído em 2015 - Foto: Danielle Meira dos Reis
1. Rio Sena, Paris (França)
O Sena, em Paris, foi degradado por
conta da poluição industrial, situação comum a outros rios europeus. Neste
caso, porém houve um agravante: o recebimento de esgoto doméstico.
Por conta de seu estado lastimável,
desde a década de 1920 o Sena é alvo de preocupações ambientais. Mas foi apenas
em 1960 que os franceses passaram a investir na revitalização do local
construindo estações de tratamento de esgoto. Hoje já existem 30 espécies de
peixes no rio, mas o processo para que isso acontecesse foi lento.
No começo, havia apenas 11 estações em
funcionamento. Em 2008 já eram duas mil, mas a meta é que em 2015 o rio já
esteja 100% despoluído. Como parte do processo de tratamento de esgoto, o
governo criou leis que multam fábricas e empresas que despejarem substâncias
nas águas. Além disso, há um incentivo entre 100 e 150 euros por hectare para
que agricultores que vivem às margens do rio não o poluam.
Tâmisa era conhecido antes como o "Grande fedor" - Foto: Wikimedia Commons
2. Rio Tâmisa, Londres (Reino Unido)
O Tâmisa tem quase 350 km de extensão e
um longo histórico de poluição. As águas deixaram de ser consideradas potáveis
ainda em 1610, por conta da falta de saneamento básico da Inglaterra. Ocorriam
até mesmo mortes por cólera. Em 1858, no entanto, reuniões parlamentares
precisaram ser suspensas por conta do mau cheiro das águas, o que levou os
governantes a resgatar a vida do rio apelidado como “Grande fedor”.
Na época foi colocado em prática uma
alternativa sem êxito, já que o sistema que coletava o esgoto despejava os
dejetos recolhidos no rio a certa distância abaixo da cidade. Apenas entre
1964 e 1984 novas ações de revitalização surtiram efeito. Foram criadas duas
estações de tratamento de esgoto com investimentos de 200 milhões de libras.
Quinze anos depois, um incinerador passou a dar destino aos sedimentos vindos
do tratamento das águas, gerando energia para as duas estações. Fora isso, hoje
dois barcos percorrem o Tâmisa de segunda a sexta e retiram 30 toneladas de
lixo por dia.
Famoso rio de Lisboa teve investimento de 800 milhões de euros
Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons
3. Rio Tejo, Lisboa (Portugal)
Para despoluir o famoso rio de Lisboa
foram investidos 800 milhões de euros. A revitalização, que se encerrou em
2012, incluiu obras de saneamento e renovação da rede de distribuição de águas
e esgotos, visto que os dejetos eram depositados diretamente nas águas do rio.
Foram beneficiados com o projeto 3,6 milhões de habitantes.
O Tejo é o maior rio da Europa
ocidental e passou a ser despoluído com a criação da Reserva Natural do
Estuário do Tejo, em 2000. O plano envolveu a construção de infraestrutura de saneamento
de águas residuais e renovação de condutas de abastecimento de água. Hoje, até
golfinhos voltaram a saltar nas águas do rio europeu.
Os 5,8 km do rio que corta a grande metrópole de Seul foram totalmente revitalizados em apenas quatro anos
Foto: longzijun
4. Rio Cheonggyecheon, Seul (Coreia do Sul)
Pode parecer mentira, mas os 5,8 km do
rio que corta a grande metrópole de Seul foram totalmente revitalizados em
apenas quatro anos. Hoje ele conta com cascatas, fontes, peixes e é ponto de
encontro de crianças e jovens.
Seu renascimento começou em julho de
2003, quando o governo da cidade implodiu um enorme viaduto (com cerca de 620
mil toneladas de concreto) que ficava sobre o rio e começou, em paralelo, um
grande projeto de nova política de transporte público e construiu diversos
parques lineares, ampliando a quantidade de áreas verdes nas ruas para uma
cidade sustentável. Todo o processo teve um investimento de 370 milhões de
dólares.
Com as melhorias ambientais, a
temperatura em Seul diminuiu 3,6°C, além de haver melhorias econômicas para a
cidade. O rio sul-coreano era responsável pela drenagem das águas da metrópole
com mais de 10 milhões de habitantes quando seu leito se tornou poluído. Hoje,
as águas que correm por lá são bombeadas do Rio Han, outro que passou pelo
processo de despoluição.
O Han também passou por mudanças e hoje é considerado limpo e já tem algumas espécies de peixe
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
5. Rio Han, Seul (Coreia do Sul)
Formado pela confluência dos rios
Namhan e Bukhan, ele passa por Seul e se junta ao rio Imjin, que em seguida
deságua no Mar Amarelo. Com 514 km de extensão, sendo 320 navegáveis, o rio
sempre teve papel fundamental para o desenvolvimento da região, visto que era
fonte para a agricultura e o comércio, além de ajudar na atividade industrial e
na geração de energia elétrica.
No entanto, o Rio Han sofreu grande
degradação durante a Segunda Gerra Mundial e Guerra da Coreia, além de receber
o despejo de esgoto.
Mas, em 1998, com o plano de
Desenvolvimento e Implementação de Gestão da Qualidade da Água, o local mudou o
seu destino. Com a revitalização do rio Cheonggyecheon, o Han também passou por
mudanças e hoje é considerado limpo e já tem algumas espécies de peixe. O
governo tem em prática, inclusive, o projeto Han Renaissance, que tem por
objetivo revitalizar 12 parques à beira do rio.
Governos das cidades banhadas pelo Reno se reuniram e criaram o Programa de Ação para o Reno em 1987
Foto: Vladimir Rys/Getty Images
6. Rio Reno, várias cidades da Europa
Com cerca de 1,3 mil km de extensão, o
rio nasce nos Alpes Suíços e banha seis países europeus até desaguar no Mar do
Norte, na Holanda. Durante muitos anos recebeu dejetos de zonas industrias, o
que o levou a ser conhecido, em 1970, como a cloaca a céu aberto da Europa.
Um dos principais casos de contaminação
aconteceu em 1986, quando 20 toneladas de substâncias altamente tóxicas foram
despejadas no rio por uma empresa suíça. Com o ocorrido, o governos das cidades
banhadas pelo Reno se reuniram e criaram o Programa de Ação para o Reno em
1987, investindo mais de 15 bilhões de dólares em sua recuperação, que contou
com a construção de estações de tratamento de água monitorado. O resultado são
95% dos esgotos das empresas tratados e a existência de 63 espécies de peixes
vivendo por ali hoje.
Cleveland investiu mais de 3,5 bilhões de dólares para a purificação da água do Cuyahoga e dos seus sistemas de esgoto - Foto: Cuyahoga jco
7. Rio Cuyahoga, Cleveland (Estados Unidos)
Localizado no estado de Ohio, ele conta
com 160 km de extensão, passando pelo Parque Nacional do Vale Cuyahoga e
desaguando no Lago Eire. Hoje ele é parte fundamental do ecossistema da região,
sendo lar e fonte de sustento de diversos animais. No entanto, a história era
bem diferente em um passado não muito distante.
Devido à atividade industrial maciça e
o esgoto residencial da região entre Akron e Cleveland, o rio era bastante
poluído. Para piorar a situação, em junho de 1969, uma mancha de óleo e outros
produtos químicos incendiaram o rio. Por conta desses fatores, em 1970 foi
assinado o Ato Nacional de Proteção Ambiental, que viabilizou a criação do Ato
Água Limpa, em 1972, estipulando que todos os rios do país deveriam ser
apropriados para a vida aquática e para o lazer humano.
Assim, Cleveland investiu mais de 3,5
bilhões de dólares para a purificação da água do Cuyahoga e dos seus sistemas
de esgoto. E a previsão é de investir mais 5 bilhões nos próximos 30 anos para
manter o bom estado de suas águas.
As galerias pluviais foram reconstruídas nos Canais de Copenhague
Foto: Pramzan45/Wikimedia Commons
8. Canais de Copenhague (Dinamarca)
Provavelmente você conhece a capital
dinamarquesa por ser referência no assunto meio ambiente. Hoje ela possui uma
meta muito clara: quer chegar em 2025 como a capital a primeira capital do
mundo a neutralizar suas emissões de carbono.
Mas nem sempre foi assim. Antes os
canos que levavam a água da chuva para os rios e canais muitas vezes se
misturavam com a rede de esgoto, transportando os dejetos para as águas. Além
disso, o entorno do rio era uma área industrial, o que fazia com que boa parte
do lixo da região fosse para os canais e rios.
Em 1991, no entanto, surgiu o plano de
despoluição das águas e a remoção da área industrial ao redor do rio. Assim, as
galerias pluviais foram reconstruídas, os reservatórios de água foram
estabelecidos em pontos estratégicos da cidade para que a água da chuva se
armazenasse em caso de tempestade e o encanamento dos esgotos foi melhorado. O
lixo, por sua vez, passou a ser reciclado e incinerado.
Hoje os habitantes e turistas podem,
até, tomar banho nas piscinas públicas artificiais criadas pelo governo.
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