RUMO AO FIM DA VIDA SELVAGEM?
Não tema apenas pelas espécies
“ameaçadas”. Populações da maioria dos vertebrados estão sendo drasticamente
reduzidas, devido à ação humana. Leão é caso emblemático
Os seres humanos estão agora
financiando a guerra contra a própria vida. Continuamos a destruir não apenas
vidas individuais, populações locais e espécies inteiras em grande número, mas
também os ecossistemas que tornam possível a vida na Terra. Ao fazer isso
estamos acelerando o processo da sexta extinção em massa de espécies, na
história do planeta, e virtualmente eliminando qualquer perspectiva de
sobrevivência humana.
Num estudo científico publicado
recentemente, “A Aniqulação biológica por meio da sexta extinção em massa em
curso, assinalada pelas perdas e declínio da população vertebrada” [“Biological
annihilation via the ongoing sixth mass extinction signaled by vertebrate
population losses and declines”], os autores Gerardo Ceballos, Paul R. Ehrlich
e Rodolfo Dirzo documentam a aceleração desse problema.
“A sexta extinção em massa na
Terra é mais severa do que se percebe ao olharmos exclusivamente para as
espécies em extinção… Essa conclusão tem base em análise dos números e graus do
alcance da redução… usando uma amostra de 27.600 espécies vertebradas, e
documentando, numa análise mais detalhada, a extinção de populações em 177
espécies de mamíferos, entre 1900 e 2015.” A pesquisa deles descobriu que a
taxa de perda da população de vertebrados terrestres é
“extremamente alta” – mesmo em espécies consideradas “de baixa preocupação”.
Na amostra, que inclui perto de
metade das espécies vertebradas conhecidas, 32% (8.851, entre 27.600) estão
decrescendo; isto é, elas decresceram em extensão do território ocupado e
tamanho da população. Em relação aos 177 mamíferos sobre os quais eles
tiveram dados detalhados, todos tinham perdido 30% ou mais de sua extensão
geográfica e mais de 40% das espécies experimentaram declínio severo da
população. Os dados revelaram que “além da extinção de espécies globais a Terra
está experimentando um enorme episódio de declínio e extinção de populações,
que terá consequências negativas em cascata nos serviços e funcionamento de
ecossistemas vitais para sustentar a civilização. Descrevemos isso como
‘aniquilação biológica’ para ressaltar a atual magnitude do evento da sexta
grande extinção em curso.”
Para compreender o dano
causado ao reduzir dramaticamente a variedade histórica e geográfica das
espécies, considere o leão. A panthera leo “era historicamente
distribuída pela maior parte da África, sul da Europa e Oriente Médio, chegando
até o noroeste da Índia. Agora ela está confinada a esparsas populações na
África sub-saariana e a uma população reminiscente na floresta Gir da Índia. A
grande maioria das populações de leão acabou.”
Qual a razão disso acontecer?
Ceballos, Ehrlich e Dirzo nos explicam: “Nas últimas décadas, a perda de
habitats, overexploração, organismos invasivos, poluição, toxicidade e, mais
recentemente, perturbação climática, bem como a interação entre esses fatores,
levaram a declínios catastróficos em número e tamanho das populações tanto de
espécies vertebradas comuns quanto raras.”
Além disso, contudo, os autores
avisam: “Mas o verdadeiro alcance desse extermínio em massa foi subestimado,
por causa da ênfase na extinção das espécies.” O fenômeno pode ser rastreado
pela omissão do extermínio acelerado das populações de cada espécie.
“O extermínio de populações é um
prelúdio para a extinção de espécies — portanto, o processo da sexta extinção
em massa na Terra avançou além do que a maioria assume.” Além disso, e de modo
importante a partir de uma estreita perspectiva humana, a perda maciça de
populações locais já está causando danos aos serviços oferecidos pelos
ecossistemas à civilização (que, é claro, não recebem nenhum valor de
economistas de mercado).
Como recordam Ceballos, Ehrlich e
Dirzo: “Quando consideramos esse assalto apavorante aos fundamentos da
civilização humana, nunca se deve esquecer que a capacidade da Terra para
sustentar a vida, incluindo a vida humana, foi constituída pela própria vida.”
Quando se debate a crise de extinção, ela em geral destaca as poucas espécies animais
(provavelmente emblemáticas) conhecidas por terem sido extintas — um fenômeno
capaz de projetar, no futuro, a extinção de muitas outras.” Contudo, um exame
nos mapas do processo revela um quadro muito mais realista: o número de animais
que já compartilharam a Terra conosco está reduzido pela metade — o que
significa bilhões de indivíduos exterminados.
Os autores sustentam que sua
análise é conservadora, dada a trajetória crescente dos fatores que levam à
extinção, além da sinergia de seus impactos. “As perdas futuras podem
facilmente levar à rápida defaunação do planeta e a perdas comparáveis na
diversidade de plantas, inclusive a coextinção local (e eventualmente global)
de plantas causada pela defaunação.”
Ceballos, Ehrlich e Dirzo
concluem com uma observação assustadora: “Assim, enfatizamos que a sexta
extinção em massa já está aqui e a janela para ação efetiva é muito estreita.”
Claro, é muito tarde para aquelas
espécies de plantas, pássaros, animais, peixes, anfíbios, insetos e répteis
cuja extinção já foi provocada pelos humanos — ou será, no futuro. Duzentas
espécies ontem; duzentas hoje; duzentas amanhã. E, como enfatizam Ceballos,
Ehrlich e Dirzo, o contínuo extermínio diário de uma miríade de populações
locais.
Se você avalia que a informação
acima já suficientemente ruim suficiente para avaliar das perspectivas da
sobrevivência humana, leve em conta, também, algo pior: a realidade exposta no
trabalho impacta desfavoravelmente nossas perspectivas de uma maneira que os
autores não puderam avaliar.
Enquanto Ceballos, Ehrlich e
Dirzo, além dos problemas apontados acima, também identificaram a
superpopulação humana e o superconsumo (baseado na “ficção de que o crescimento
perpétuo pode ocorrer num planeta finito”) e mesmo os riscos colocados pela guerra
nuclear, há muitas variáveis que estavam além do escopo de seu estudo.
Por exemplo, numa discussão
recente do da ecologia conhecido como “Ciência dos Limites Planetários”, o
ambientalista e escritor norte-americano Glen Barry identificou “pelo menos dez
catástrofes ecológicas globais que ameaçam destruir o sistema ecológico global
e prenunciam o fim dos seres humanos, e talvez de toda a vida. Da deposição de
nitrogênio à acidificação dos oceanos, quase todos os sistemas ecológicos de
que a vida depende estão arruinados”. Veja “O fim da vida: mudanças
climáticas abruptas, uma das muitas crises ecológicas que ameaçam destruir a
Biosfera” [“The End of Being: Abrupt Climate Change One of Many Ecological
Crises Threatening to Collapse the Biosphere”].
Fora o número de mortes humanas
em curso, causadas pelas guerras sem fim e outras violências militares
conduzidas por todo o planeta (veja, por exemplo, “Cólera no Iêmen é a pior já registrada e os números ainda estão subindo”,
estes conflitos provocam um dano ambiental catastrófico. Para ter uma
ideia, veja “O Efeito
Tóxico do Projeto Bélico” [“The Toxic Remnants of War
Project”].
Além disso, a emissão
incontrolada de gás metano na atmosfera que ocorreatualmente – veja “7.000 bolhas de gás subterrâneo prestes a ‘explodir’ no Ártico” [“7,000
underground gas bubbles poised to ‘explode’ in Arctic”] e “Emissão de gás
metano no Ártico ‘pode ser apocalítica’, alerta estudo”
[“Release of Arctic Methane ‘May Be Apocalyptic’, Study Warns”] e a divulgação,
a cada e todo dia, de 300 toneladas de lixo radiativo de Fukushima no Oceano
Pacífico – veja “Radiação de Fukushima contaminou todo o Oceano Pacífico – e ainda vai
ficar pior” [“Fukushima Radiation Has Contaminated The Entire
Pacific Ocean – And It’s Going To Get Worse”].
Ademais, há uma série de
outras questões críticas – como a destruição das florestas tropicais
da Terra, a destruição dos cursos d’água e o habitat marinho e o impacto
devastador da pecuária – que as
organizações internacionais tais como a ONU, governos
e corporações multinacionais recusam-se a combater por
serem controladas por uma insana elite global. Veja “A
elite global é insana” [“The Global Elite is Insane”] com explicações mais
completas e elaboradas em “Por que a
violência?” e “Psicologia destemida
e psicologia medrosa: princípios e prática” [“Fearless Psychology and Fearful
Psychology: Principles and Practice”].
O tempo pode ser pouco, as
questões extremamente preocupantes e as perspectivas de vida, assustadoras. Mas
se você está inclinado a lutar até o último suspiro, é possível a agir
coletivamente na luta por nossa sobrevivência. Alguns estudos podem sugerir
caminhos para tanto. Em The Flame Tree Project to Save Our Life, há uma
estratégia de quinze anos, baseada em redução dos ataques à natureza, redução
drástica do uso de combustíveis sólidos, metais, papel, plástico e carne e em
reparação de danos: reflorestamento com espécies nativas, recuperação dos
solos, etc. É possível agir também em pequena escala (por meio de atitudes
individuais e em plano local).
Podemos estar aniquilando a vida
na Terra, mas isso não é algo inevitável. Cada um de nós tem uma escolha:
podemos decidir não fazer nada, podemos esperar (e até influenciar) que outros
ajam, ou podemos participar de ações poderosas. Mas a menos que sinta e faça
uma escolha consciente e deliberada de comprometer-se com uma ação efetiva, sua
escolha inconsciente será a que prevalecerá (inclusive aquela de tomar medidas
vazias e iludir-se de que estão fazendo alguma diferença). E o aniquilamento da
vida na Terra continuará, com sua cumplicidade.
A extinção espreita. Você fará a
escolha certa?
Por Robert
J. Burrowes | Tradução: Inês Castilho
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